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Pensar o suicídio é pensar o mundo: modos de vida, sofrimento e liberdade
O LYSIS é um núcleo de pesquisa criado na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), voltado ao estudo crítico e interdisciplinar do suicídio, entendido não apenas como um evento individual, mas como um fenômeno complexo, situado nas dobras da história, da cultura, da política, do ambiente, da subjetividade e da existência. Em vez de tratar o suicídio exclusivamente sob a lógica biomédica — que o reduz à expressão de uma patologia individual —, o LYSIS propõe uma abordagem que abrace sua densidade ética, social e ontológica.
Nosso trabalho parte de uma constatação incômoda: vivemos uma era que multiplica discursos sobre saúde mental e bem-estar, ao mesmo tempo em que perpetua modos de vida que geram sofrimento, isolamento e desesperança. O suicídio, nesse contexto, não pode ser tratado como simples desvio ou falha pessoal — ele exige ser escutado como um grito interrompido, um sintoma do esgotamento de formas de vida, um sinal de que algo, em nossas relações sociais, afetivas e políticas, deixou de sustentar o sentido.
O nome LYSIS, escolhido de modo simbólico e conceitual, provém do grego λύσις, que significa “libertação”, “desatamento”. É essa abertura que buscamos: romper estruturas conceituais rígidas, expor o que foi silenciado, e libertar novas formas de compreender e cuidar do sofrimento humano ou compreender possíveis racionalidades em escolhas justificadas. O termo aparece em Platão como nome do diálogo sobre a amizade (philia), revelando a possibilidade da escuta e da abertura ao outro. Na biologia, “lise” designa a ruptura das células — a quebra de formas estabelecidas que permite acessar seus conteúdos. Ambas as imagens são potentes: queremos desorganizar o pensamento único, liberar vozes, desfazer clausuras.
Reconhecemos a importância da psiquiatria e da medicina, especialmente na escuta clínica e no cuidado terapêutico. No entanto, compreendemos também que nem todo desejo de morrer é expressão de uma doença mental. Há sofrimentos que nascem do abandono, da exclusão, da violência estrutural, da miséria, das pressões violentas do outro, da perda de sentido. Há mortes que se inscrevem como gestos éticos, existenciais, políticos. Pensar essas possibilidades com seriedade, coragem e cuidado é parte de nosso compromisso.
O LYSIS assume, assim, o dever de promover o debate público sobre temas que a sociedade frequentemente evita ou silencia:
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as condições sociais, políticas e subjetivas que alimentam o desejo de morte;
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o sofrimento ético diante da perda de sentido ou de autonomia;
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o direito ao cuidado paliativo e ao morrer digno;
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o testamento vital e a autodeterminação existencial;
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a eutanásia voluntária, o suicídio assistido e a discussão jurídica e ética sobre o direito de morrer.
Não defendemos respostas únicas nem posições fechadas — o que afirmamos é a urgência do pensamento. A recusa em discutir publicamente essas questões mantém o sofrimento trancado em solidão e desamparo. Pensar o suicídio é pensar o mundo: seus valores, suas injustiças, suas formas de abandono, mas também suas possibilidades de reconstrução.
Nos estruturamos em três linhas de pesquisa interligadas:
• Suicídio e Saúde Mental
Questiona a hegemonia do discurso psiquiátrico tradicional e propõe uma escuta ampliada do sofrimento, valorizando a autonomia da psicologia e o diálogo com as diversas áreas da saúde, da filosofia e das ciências sociais.
• Filosofias da Morte e Genealogia do Suicídio
Investiga as transformações históricas da morte voluntária em tabu moral e jurídico, e busca compreender o suicídio como experiência existencial, marcada por contextos, razões e possíveis sentidos.
• Suicídio e Meio Ambiente
Analisa os vínculos entre a degradação ecológica, o uso de agrotóxicos, os impactos do capitalismo e a precarização da saúde mental coletiva — propondo novas formas de habitar o mundo.
O LYSIS é, portanto, espaço de pesquisa e escuta, de denúncia e criação, onde pensar é também um ato de cuidado. Produzimos conhecimento comprometido com a vida em sua complexidade — não para normalizá-la ou protegê-la a qualquer custo, mas para escutá-la, compreendê-la e transformá-la quando necessário.
A morte é parte da vida. E o pensamento, quando não foge dela, pode se tornar gesto de liberdade.
Endereço para acessar o espelho do grupo: dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/2194135836207322
Suporte emocional
As pessoas que precisam de ajuda podem recorrer ao Centro de Valorização da Vida (CVV), grupo de voluntários que oferecem apoio emocional gratuito. Saiba mais.

