Vou aproveitar este espaço para escrever, em primeira pessoa, sobre alguns projetos que atravessam a criação do Lysis, mas que são muito anteriores. Muitos têm me perguntado por que ainda não escrevi o Livro 2 de A História do Suicídio, lançado o primeiro volume em 2020. A verdade é que o Livro 1, desde sua publicação, exigiu complementos e aprofundamentos. Minha pesquisa mergulhou profundamente nas fontes antigas, buscando mostrar como o problema da morte voluntária era percebido por romanos, gregos, judeus e cristãos, e de que forma essas compreensões ajudaram a moldar as visões ocidentais que chegaram até nós. Muitas delas, é verdade, foram combatidas e enterradas com o domínio do cristianismo; no entanto, os estudos das fontes têm revelado perspectivas surpreendentemente modernas, que merecem ser revisitadas. E essa tem sido a minha tarefa.
Foram anos examinando essas fontes, e alguns resultados já podem ser encontrados nas publicações recentes: dois pequenos livros, Ensaio sobre o Martírio Cristão e Quem Escreveu os Evangelhos? Esses livros fazem parte de um estudo mais profundo sobre a gramática do suicídio, desenvolvido na minha segunda tese de doutorado, que será defendida em 15 de dezembro de 2025, no PPG-Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.
Após a defesa, o trabalho ficará disponível nos repositórios da UFRGS e será transformado em livro. Trata-se de uma pesquisa que venho realizando desde o primeiro volume da História do Suicídio, somando, portanto, cinco anos de estudo. Minha tese chama-se As Confissões de Lucrécia: Agostinho e as Gramáticas do Suicídio, título que será mantido na publicação, prevista para 2026 ou 2027.
Paralelamente, um trabalho extenso será publicado pela Editora da Universidade Federal do ABC, no início de 2026, sob o título A Invenção do Suicídio: Genealogia dos Nossos Preconceitos Morais e Crítica da Psiquiatria. Este livro traz análises de diversos temas contemporâneos e já se encontra na etapa de diagramação; assim que a editora liberar, farei sua divulgação. Trata-se de uma publicação particularmente importante, avaliada por pareceristas do corpo editorial da EdUFABC em sistema duplo-cego, e que exigiu rigoroso tratamento das fontes e do texto. Mas, sobretudo, este livro me permitiu tomar posições pessoais diante de questões complexas, como minha crítica à ideia de “prevenção” e minha reflexão sobre a eutanásia.
Todos esses projetos foram necessários para aprofundar o tema tratado no primeiro livro e demandaram tempo e dedicação. Com essas etapas concluídas, retomei o desenvolvimento de A História do Suicídio 2 e 3, que completarão a coleção. O segundo volume deverá ser lançado no segundo semestre de 2026 pela editora Literíssima, provavelmente junto com o terceiro.
No Livro 2, examino como, no início da modernidade — especialmente nos séculos XVI e XVII — houve uma retomada das discussões sobre suicídio com a redescoberta da literatura antiga, colocando em debate a hegemonia da condenação estabelecida por Agostinho. Analiso também como essas discussões foram gradualmente incorporadas ao campo da Medicina, culminando no nascimento da psiquiatria, que passou a dominar o assunto.
No Livro 3, abordo os temas contemporâneos, explorando debates sobre suicídio assistido e eutanásia voluntária, além de examinar a questão em culturas orientais e em povos não-ocidentais de forma mais ampla.
A coleção, portanto, é uma viagem que percorre desde a antiguidade até os debates atuais, mostrando a complexidade histórica, filosófica e cultural do suicídio. Espero que, ao ler os próximos volumes, os leitores se surpreendam com as conexões que emergem entre passado e presente, entre ética, medicina e cultura, e com a riqueza das fontes que deram origem às nossas ideias contemporâneas sobre a morte voluntária.
E, finalmente, concluí um antigo projeto iniciado em 2015, que foi sendo meditado, pensado e arriscado ao longo dos anos: meu primeiro romance, O Filósofo da Rua XV. Em breve, darei mais notícias sobre ele, e espero que esta obra desperte no leitor a mesma inquietação e reflexão que nortearam meus estudos acadêmicos.
Abraços,
Alexandre H. Reis
