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Carta aberta do Lysis sobre o Setembro Amarelo

À comunidade acadêmica e à sociedade,

Desde sua fundação, o Lysis tem se dedicado a estudar o suicídio em sua complexidade histórica, filosófica, cultural e social. Nosso compromisso é com o pensamento crítico, com o cuidado ético e com a escuta das vozes silenciadas. É justamente por fidelidade a esse compromisso que optamos por não integrar oficialmente as campanhas do Setembro Amarelo, embora cada membro possa se envolver, por seu turno, nas atividades da campanha.

Embora o Setembro Amarelo tenha mérito por romper parcialmente o tabu do silêncio, muitas ações têm assumido o caráter de rituais efêmeros, muitas vezes voltados para a construção de figuras de autoridade, em alguns casos de negócio, guiados por discursos repetitivos e dados imprecisos, oferecendo uma luz breve para um problema que exige presença e profundidade contínuas. Reconhecemos alguns méritos, mas sobretudo, consideramos que se deva ter responsabilidade sobre um assunto que exige um olhar amplo, responsável, empático para com as pessoas de carne e osso e crítico para com os discursos.
Frequentemente, essas campanhas reduzem o suicídio a um problema exclusivamente médico ou psiquiátrico, negligenciando suas dimensões existenciais, sociais e culturais. Mais grave ainda: os mesmos idosos — a faixa etária com maiores taxas de morte voluntária no Brasil — são quase sempre invisibilizados nessas ações, que priorizam públicos mais jovens por conveniência estatística ou midiática.

Outra crítica importante que assumimos está no perigo de substituir antigos interditos religiosos por novas interdições morais, criando uma prevenção acrítica e dogmática que pouco contribui para uma escuta autêntica. O suicídio não é um tema unívoco; tratá-lo apenas como doença ou desvio é desconsiderar sua complexidade histórica e humana.

Por essas razões, o Lysis permanecerá atuante nos outros onze meses do ano, promovendo estudos, diálogos, projetos e espaços de escuta que enfrentem o tema sem reducionismos. Entendemos que o cuidado real exige constância e coragem, e não apenas a atenção concentrada em um mês específico.

Convidamos colegas, estudantes, profissionais de saúde e membros da comunidade a se unirem a nós para construir um debate crítico, interdisciplinar e acolhedor sobre o suicídio — não apenas em setembro, mas sempre.

Pelotas, 11 de setembro de 2025
Lysis – Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Suicídio e Modos de Vida
Universidade Federal de Pelotas

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