Por Natália Flores
Pessoas com multimorbidade parecem ter mais cautela e adotar comportamentos de proteção contra a Covid-19 de forma frequente do que pessoas sem essas condições. A prevalência de pessoas com múltiplas condições de saúde que ficaram em casa foi 16 pontos percentuais maior do que pessoas sem nenhuma morbidade. Os dados são de um estudo feito por pesquisadores do Grupo Brasileiro de Estudos em Multimorbidade (GBEM) publicado em novembro na revista Cadernos de Saúde Pública.
A pesquisa avaliou a adesão a comportamentos de proteção contra a Covid-19 de adultos com 50 anos ou mais de idade, a partir dos dados do inquérito telefônico de participantes do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), conduzido entre maio e junho. A análise levou em conta fatores sociodemográficos, como sexo, nível de escolaridade e raça/cor de pele.
A maioria da população com multimorbidade tem evitado sair de casa – saindo, no máximo, uma ou duas vezes por semana. Apenas 10% das pessoas com multimorbidade saíram de casa todos os dias no período de uma semana, contra 21% das pessoas sem morbidade. Os motivos da saída estão relacionados à compra de remédios, trabalho e pagamento de contas. Mais de 96% das pessoas relataram usar máscara e higienizar as mãos quando saem de casa.
As mulheres com multimorbidade tiveram maior adesão ao isolamento social em comparação aos homens. Quanto mais idade e menos escolaridade, mais adesão ao isolamento social, segundo os dados. “As pessoas com múltiplas doenças e com perfil sociodemográfico associado a maior ocorrência de multimorbidade ficaram mais em casa — o que foi recomendado e necessário”, comenta Bruno Pereira Nunes, pesquisador da UFPel e um dos autores do estudo. “No entanto, essas pessoas podem ser as que mais sofrerão os efeitos do distanciamento social na saúde mental visto o longo tempo da primeira onda da pandemia de Covid-19 no Brasil”, avalia ele.