Pernas pra que te quero #1,5 – Interlúdio – O título nunca fez tanto sentido…
Em casa me recuperando por causa de uma queda de bicicleta Por Júlio Gemiaki
É, pois é, estava prometido que seria uma crônica por semana contando sobre como é correr em diversos lugares de Pelotas, sempre buscando alguém com quem conversar para entender como as pessoas se relacionam com o cenário urbano para realizar exercícios físicos. Bem, vou resumir bastante, corri sim nesse meio tempo, não fiquei sem me exercitar, mas corri na Duque de Caxias e não queria repetir o endereço para o texto. Eis que, um dia após a corrida, volto da universidade e me espatifo no chão de bicicleta, o que me deixou sem correr até agora (e não sei até quanto mais).
Pense que eu estava de boníssimo humor e feliz correndo de bicicleta para casa após trabalhar meu turno enquanto equipe de apoio da Semana Integrada da UFPEL. Faltavam menos de duas quadras para eu chegar ao destino, preparar meu almoço, tomar um bom banho e ir para academia. Neste exato momento do espaço-tempo, a correia da bicicleta cai e trava a roda de trás, quebrando o eixo metálico que faria ela girar. Dessa forma, o pneu traseiro faz tudo certo menos o que devia fazer, então emperra e me catapulta uns três metros para frente junto da bicicleta. Resultado: braços, mãos, barriga e pernas raladas, dois joelhos e um cotovelo roxo devido ao súbito lançamento que ocorreu enquanto os pedais aceleravam.
No momento, parecia só mais uma queda como aquelas muitas que todos têm quando são crianças. Entretanto, não sou mais uma criança, o que quer dizer que caí a mais ou menos uns 18 km/h (tendo em vista a média de 15 km/h registrada no aplicativo, mas naquele momento eu estava acelerando) e que meus arranhões e hematomas seriam mais graves e não iriam se curar assim tão rapidamente. Tudo isso fora a inflamação que cresceu nas minhas juntas – meu joelho estava mais para uma batata do que para uma articulação.
Enfim, moral da história, o que quero dizer com isso? Fiquei sem me exercitar? Não, mas mesmo assim sofri com problemas de sono, atenção e organização, só por causa dessa pequena fuga de rotina. Mas, se fiquei me exercitando, não dei tempo para meu corpo se recuperar? Dei, fiz poucas caminhadas, botei gelo nas áreas inflamadas e fiquei de molho a grande maioria do tempo nessas últimas duas semanas.
Desse jeito, ao mesmo tempo que perdi a organização no meu dia a dia, parece que relaxei de um jeito que não relaxava há anos, o que me reforçou a ideia de que manter uma boa rotina (de exercícios e de necessidades) é essencial e muito benéfico, mas ter um tempo de descanso de qualidade pode reforçar tudo isso e ainda levar a refletir sobre o quanto um joelho ralado e um corpo todo dolorido podem nos fazer parar um pouco e aproveitar as pequenas coisas, sem precisar de autocobrança.
Agora, mais que relatar o que ocorreu de forma literária e parecendo um texto de autoajuda, quero comentar umas coisas menos especulativas e opinativas. A partir daqui vou trabalhar com fatos. E antes de qualquer coisa, não, eu não queria romantizar coisas como uma rotina massacrante, falta de saúde mental para lidar com estudos e ocupações e nem mesmo o descanso, por mais que eu acabe fazendo isso na minha maneira exploratória de escrever. Essas coisas são questões sérias e devem ser tratadas com seriedade e de maneira profissional e adequada em terapias ou em atividades terapêuticas.
Bom, vamos aos fatos concretos: é recomendada a prática de exercícios físicos por 300 minutos/semana pela OMS para modalidades leves ou moderadas, e 150 minutos/semana para aqueles que podem realizar atividade física de alta intensidade. O órgão máximo da saúde ainda reforça que se exercitar tem impacto direto sobre diversos aspectos da nossa saúde, regulando nosso organismo fisicamente, bioquimicamente e, por consequência, psicologicamente. Enquanto ficar sem exercício já causa mudanças cerebrais a partir de 10 dias, aumentando ainda mais após 14 dias de baixa atividade, segundo artigo publicado na revista Frontiers in Aging Neuroscience (basicamente o que está acontecendo comigo nesse momento hahaha – mentira, apesar de me lesionar, fiquei 12 dias sem realizar atividade física de alta intensidade, recentemente voltei a fazer musculação, embora de forma reduzida devido a dores que persistem no meu joelho)
Além disso, gostaria de dar uma pincelada em assuntos como saúde mental e organização de rotina no contexto atual em que trabalhamos e estudamos (mas como isto aqui é um material jornalístico sobre esporte, não vou adentrar tanto assim por não ser o foco). Uma reportagem do Jornal da USP traz o assunto que o ser humano nunca esteve tão cansado, principalmente após a pandemia e a inserção de atividades assíncronas na rotina. O mais curioso é que a solução prática que a publicação busca trazer é como inserir exercícios e alongamentos no dia a dia, para quebrar os ciclos intermináveis de trabalho. Enquanto isso, pesquisadores da UFF trabalham em cima da síndrome de Burnout, que seria, em termos brandos, a exaustão completa da pessoa, e eles também reforçam que é necessário um equilíbrio entre produtividade e descanso para um bom funcionamento do corpo e para uma vida saudável.
Por fim, já falei muito por aqui, trazendo fontes de coisas que estou pouco familiarizado mas que acredito que devem ser discutidas com mais clareza, além de merecerem mais atenção. Reafirmo a moral da crônica: encontrar equilíbrio é importante, mas mais importante ainda é entender que para alcançar algo assim se necessita de cuidado, atenção e ajuda, seja intra ou interpessoal. Me despeço por aqui, espero que no final da semana que vem eu já possa correr, confesso que apesar de estar aproveitando bem meu descanso, sinto saudade da avenida e dos meus tênis. Hoje, quem leu até aqui fica com o registro no Strava da atividade que eu caí de bicicleta, até uma próxima!

