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HOMENAGEADAS E HOMENAGEADOS

PROFESSORA DOUTORA BEATRIZ ANA LONER

A 11ª edição prestará uma homenagem à trajetória profissional da Professora Doutora Beatriz Ana Loner, que nos deixou em 2018. Beatriz foi uma pesquisadora que se dedicou aos estudos sobre os mundos do trabalho, à escravização, à emancipação e ao pós-abolição. Sua tese de doutorado, defendida no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no ano de 1999, se tornou uma referência para pesquisas sobre trabalhadores e trabalhadoras. A tese, publicada como livro (Construção de classe. Operários de Pelotas e Rio Grande – 1ª edição 2001 e 2ª edição 2016, ambas pela editora da UFPel), analisou a formação da classe trabalhadora de Pelotas e de Rio Grande.  Suas pesquisas sobre pessoas escravizadas e o pós-abolição, dedicadas aqueles e aquelas de Pelotas, apontaram resultados e conclusões significativas para o entendimento dos vínculos cotidianos e familiares, nem sempre harmoniosos, entre os próprios indivíduos pesquisados e suas redes de relações. Como exemplo, o caso de Josefa Campos, uma mulher negra escravizada, mãe, lavadeira, de 58 anos de idade e uma das ganhadoras da Loteria do Ipiranga em 1881. O dinheiro recebido por Josefa permitiu que ela comprasse sua carta de liberdade e libertasse outras pessoas, dentre elas, sua filha Esperança e o escravizado João Tupaberada, com quem, em seguida, se casaria. A história de Josefa, apesar de se tornar uma mulher rica, não foi isenta de adversidades, sendo acusada de assassinar por envenenamento seu companheiro em 1888. Beatriz, ao averiguar a história de Josefa, sobretudo nas páginas dos jornais de Pelotas, ofereceu uma instigante análise sobre a trajetória da ex-escravizada, que se tornou conhecida na cidade não somente por ter ganhado na loteria, mas também pelo caso policial. Outro importante estudo realizado por ela é sobre os Souza Santos uma das principais famílias de afrodescendentes de Pelotas, o que os tornou parte importante da comunidade negra da região.

Beatriz Loner ingressou na Universidade Federal de Pelotas em 1989 e se aposentou em 2011. Ao longo de sua trajetória docente, orientou 59 trabalhos de conclusão de curso, 12 trabalhos de especialização e 11 dissertações de mestrado nos dois Programas de Pós-Graduação que atuou, História e Sociologia. Ao se aposentar, ingressou como professora visitante na Universidade Federal de Santa Maria, contribuindo para as pesquisas sobre pós-abolição na região e na criação de um grupo de estudos sobre a temática. Na UFPel, Beatriz fundou, em 1990, o Núcleo de Documentação Histórica, um espaço que salvaguarda importantes acervos, entre os quais se destacam o Acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul, formado por 627.000 fichas de qualificação profissional e o Acervo da Justiça do Trabalho de Pelotas, com mais de 100.000 processos. Desde 2018 o NDH passou a ser nominado como Núcleo de Documentação Histórica Profª Beatriz Loner, uma homenagem ao seu legado e à sua memória, uma forma de mantê-la presente às próximas gerações de discentes dos cursos de graduação em História da UFPel.

Beatriz foi pesquisadora associada ao grupo de pesquisa A experiência dos africanos e seus descendentes no Brasil e participante atuante nos encontros Escravidão e Liberdade desde sua primeira edição, em Castro, no Paraná, em 2003. Na 11ª edição, realizada 20 anos depois, a relevância de sua obra, a influência como pesquisadora e o incentivo para a ampliação dos estudos sobre escravidão, liberdade, pós-abolição e trajetórias negras será celebrado em uma das mesas redondas. Tornar a UFPel sede desta edição é, também, uma forma de homenageá-la, ao mesmo tempo em que se celebra a relevância de pessoas importantes para a história e a cultura dos afrodescendentes pelotenses.

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Os estudos de Beatriz Loner comentados acima podem ser conferidos nos Anais de duas edições do Encontro Escravidão e Liberdade. O caso de Josefa foi apresentado e publicado no 5º, enquanto as informações sobre a Família Souza Santos constam nos Anais do 6º.

PERSONALIDADES DA CULTURA AFRO-PELOTENSE

Nossa logomarca, produzida pela talentosa artista pelotense Ana Paula Langone (https://www.analangone.art/), apresenta espaços históricos e importantes da paisagem urbana de Pelotas: o Mercado Público, a Prefeitura Municipal, a Bibliotheca Pública e a Fonte das Nereidas (na Praça Coronel Pedro Osório). Também destaca lugares relevantes da história negra da cidade: a Charqueada São João, o antigo Engenho Pedro Osório e a Ponte dos Dois Arcos, que fica no corredor das tropas. Pelotas é uma cidade negra devido ao legado de seus antepassados, das suas ações, das suas lutas e organizações de seus descendentes, o que repercute não somente na sua história como também no seu presente. O destaque de nossa logomarca é a homenagem para oito personalidades de Pelotas:

  1. Mestra Griô Sirley Amaro: participou de várias organizações de festividades na comunidade, ministrou oficinas de contação de histórias e de narração de vivências. Faleceu em 2020 e recebeu postumamente o título de Doutora Honoris Causada Universidade Federal de Pelotas.
  2. Mestre Baptista (Neives Meirelles Baptista): possuiu forte relação com carnaval da cidade, sobretudo a partir da construção dos Tambores de Sopapo para o Projeto CABOBU.
  3. Giamarê (Ligiamar Brochado Jesus): cantora e compositora foi uma das principais figuras da música pelotense.
  4. Mestre griô Dilermando de Aguiar: percussionista do tambor de sopapo é um dos músicos que divulga a cultura afro-pelotense e integra o Grupo Odara.
  5. Giba Giba (Gilberto Amaro do Nascimento): foi um grande divulgador da cultura musical pelotense a partir do tambor de sopapo e foi o criador do Festival Cabobu, que homenageia o instrumento.
  6. Luciana Lealdina de Araújo: fundou em 1901 o Asilo de Órfãs São Benedito, hoje, Instituto São Benedito.
  7. Juvenal Moreno Penny: ao lado do irmão, Durval Moreira Penny, foi um dos fundadores do jornal A Alvorada, em 1907, um dos mais importantes jornais da imprensa negra brasileira.
  8. Rodolpho Xavier: pedreiro por profissão e liderança operária, foi outro idealizador do A Alvorada para o qual contribuiu de forma significativa.