CADERNO DE LETRAS: CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO (Ed. nº 25)
(CALL FOR PAPERS)
Este número da Cadernos de Letras – Imaginários raciais na América Latina: Literatura e cultura – busca promover o debate e a pesquisa das relações entre literatura e ideais raciais. Ou seja, nos questionamos sobre a incidência das construções teóricas sobre raça, no âmbito científico e no âmbito do imaginário, nas relações estéticas latino-americanas. Esta perspectiva, praticamente ausente na teoria e na crítica de nossos países, veio à tona de forma surpreendente com a polêmica crítica em torno à obra de Monteiro Lobato, em 2010. O debate em torno do racismo impresso em um escritor canônico da literatura brasileira, o chamado pai de nossa literatura infantil, resultou em uma intensa e por vezes incômoda discussão na qual se envolveram não só críticos literários, mas acadêmicos de modo geral, instituições, políticos, artistas e leitores comuns. Seu resultado revelou a emergência de uma nova forma de ler os textos literários e que já poderíamos denominar desde agora como leitura racial. Este fato parece indicar o surgimento de novos leitores que são afetados pelo tema e que passam a interferir no status quo literário nacional. Por outro lado, também se pode constatar uma forte resistência em se pensar o tema, o que permite vislumbrar as estratégias de leitura nacionalistas e historicistas, orientadas a justificar, minimizar ou ainda dissimular as articulações entre racismo e literatura.
O tema do racismo literário, no entanto, não parece ser pontual tampouco localizado em determinados autores. Desde que os povos ibéricos chegaram à América se fez presente a questão do outro de um modo muito mais radical do que os que haviam feito com os mulçumanos ou judeus, por exemplo. A invenção do índio e, mais tarde, a do negro, revelam um excepcional esforço intelectual para entender a esses seres e justificar sua posição social. Teologia, filosofia, direito, ciência e também a literatura colaboraram, e seguem colaborando, para tal, não sem contradições, ambiguidades e enfrentamentos. As ideias sobre índios, negros, crioulos, mestiços e imigrantes permeiam boa parte de nosso imaginário cultural, seja pelo encontro inicial dos povos culturalmente diferentes, seja pela construção de uma identidade nacional que se pretende descolonizadora e, finalmente, pelas utopias que se engendram sobre o futuro racial do continente.
Entendemos que observar a literatura a partir desta perspectiva pode ampliar o conhecimento do fenômeno estético em contextos pluriculturais hierarquizados, desmistificar o conceito das “bondades” literárias, assim como colaborar com o desvelar de vínculos surpreendentemente descuidados ou silenciados pela teoria e crítica literárias.
Temas propostos para esta edição:
. O encontro de culturas e a construção do outro.
. As teorias raciais na América Latina e seus reflexos na literatura.
. [Os debates sobre] O status de índios, negros e imigrantes na literatura latino-americana.
. As ideologias da mestiçagem na literatura do continente.
. O branqueamento e suas estratégias na representação literária: nacionalismos, “criollismos”, imigração.
. Utopias raciais e literatura.
. Mitos e imaginarios raciais.
. Literaturas orais: racismos e anti-racismos.
. A teoria das literaturas racializadas: literaturas indígenas e afro-latinoamericanas.
. Ideais raciais, crítica e teoria literária.
Normas para submissão de trabalhos: https://wp.ufpel.edu.br/cadernodeletras/normas-para-submissao/
Data limite para envio de trabalhos: 11 de agosto de 2015
Organização do número: Profa. Dra. Aline Coelho da Silva e Prof. Dr. Uruguay Cortazzo.