Por Luísa Brito da Costa
Nas águas do Canal São Gonçalo, nasceu o bairro Porto, no município de Pelotas, crucial na história e que, desde o seu surgimento, deixou sua marca no desenvolvimento da cidade e região. O que um dia foi o cerne da atividade industrial e testemunhou uma era próspera na história econômica local, hoje, encontra-se envolto em estigmas e preconceitos, uma perspectiva que propaga um excesso de marginalização estereotipada.
O bairro, atualmente, é delimitado pelas ruas Três de Maio, Almirante Barroso e João Manoel, estendendo-se pelo pequeno cais acostável localizado às margens do Canal São Gonçalo. O Porto de Pelotas, que dá nome ao bairro, é hoje responsável pela movimentação principalmente de materiais como madeira, clínquer e soja. Por muitos anos sua localização geográfica serviu como ponto estratégico para a economia da região, por fazer a conexão da Lagoa dos Patos com a Lagoa Mirim.
Por esse motivo, a presença do canal foi um acelerador industrial para a região portuária, pois gerou uma movimentação intensa de mercadorias e serviços. Isso teve como consequência um rápido desenvolvimento, o que moldou a paisagem urbana do bairro. Com o aumento do transporte de produtos pelo Canal São Gonçalo, várias fábricas surgiram, abrindo caminho para a construção de edifícios destinados a uma variedade de serviços. Esse rápido desenvolvimento de atividades não só impulsionou a economia da época, mas também deu origem a um novo bairro na cidade.
É importante ressaltar que esse crescimento acelerado contribuiu para transformar o bairro em um dos mais promissores de Pelotas na época. Diversas residências foram construídas, proporcionando moradia aos trabalhadores e suas famílias, tudo isso com o intuito de centralizar a força de trabalho e a economia em um único núcleo. No entanto, o declínio gradual das atividades econômicas resultou no abandono progressivo dessas estruturas, gerando uma degradação física e socioeconômica da região.
Alguns pesquisadores afirmam que o declínio econômico do porto, e consequentemente do bairro, começou a partir da década de 1970. Entre os fatores estão a construção de estradas rodoviárias modernas na região, a concorrência com o Porto do Rio Grande e a falta de manutenção do canal de acesso ao porto de Pelotas. Isso propiciou o declínio do transporte hidroviário local e consequentemente o desempenho econômico de toda região que utilizava essa estrutura como suporte.
Com o declínio da atividade portuária e a consequente desvalorização da área, a comunidade do bairro teve de se ajustar às condições locais para garantir sua subsistência. Nesse contexto, devido a todos esses desafios, o desenvolvimento do bairro Porto ocorreu sem um planejamento urbano adequado, resultando em inúmeros problemas sociais e ambientais que afetaram não apenas a própria região, mas também a qualidade de vida da população.
Hoje, os resquícios desse passado podem ser vistos nas fachadas desgastadas e nos escombros que um dia abrigaram uma próspera atividade industrial. O bairro Porto permanece como um testemunho silencioso da movimentação econômica que moldou não apenas sua própria história, mas também contribuiu significativamente para o desenvolvimento de Pelotas.