Kaique Cangirana/Superávit Caseiro
Nesta quarta-feira (27), a campanha “Doe Arena” foi lançada com objetivo de arrecadar R$ 700 milhões, uma quantia considerável para a quitação do estádio do Corinthians, a Neo Química Arena, que já acumula uma dívida de R$ 710 milhões com a Caixa Econômica Federal, instituição financiadora da construção do estádio.
Assim como empresas do mundo corporativo, um clube de futebol está sujeito a desafios financeiros que dificultam sua operação ou ameaçam sua existência. Durante um momento em que times do Brasil acumulam dívidas com folhas salariais altíssimas e recorrem ao modelo empresarial SAF, onde a gestão é realizada por um dono ou instituições de posse legal, a saúde financeira é essencial para a manutenção das atividades de uma instituição ou sociedade desportiva.
A dívida atribuída ao Sport Clube Corinthians Paulista chega a casa dos R$ 2 bilhões e a quitação do estádio, feita por patrocinadores e, majoritariamente por torcedores, seria capaz de tirar um dos pesos que ameaçam o clube de punições, processos, decreto de falência e venda. A alternativa, impulsionada por pesquisas e ampla campanha de marketing, pode ser considerada um acerto inovador, afinal de contas nenhum outro clube já obteve tal feito e nenhuma empresa do mercado financeiro seria tão amada ao ponto de ser ajudada em meio a crises financeiras. Dito isso, a paixão e identidade dos públicos interessados, como os próprios torcedores, preconizam uma doação incondicional.
Porém, nem tudo são flores. Identificando a fidelidade e devoção daqueles que contribuem na esperança de ajudar o clube, não se pode disfarçar, esquecer ou perdoar os erros que colocaram o clube nessa situação. Dirigentes, presidentes, empresários, conselheiros e gestores de futebol são amplamente responsáveis pelo funcionamento efetivo de um clube, que deve gerar valor, investir e obter retorno de suas atividades, produtos e serviços ofertados.
Por mais interessante que a iniciativa possa ser, sua utilização não deve se tornar um vício dos clubes indisciplinados financiamento, muito menos desculpa para inflacionar contratações, ampliar gastos ou desconsiderar as cifras de um simples patrocínio. É preciso ter cuidado e não romantizar o descontrole financeiro, a má gestão e a incompetência. Essa observação é constantemente objeto de análise do mercado financeiro com relação a governança corporativa e tudo que as ações das pessoas por trás da administração são capazes de causar a uma instituição e seu caixa. Por isso, deve-se temer a utilização dessas ferramentas como algo normal e justificar sua necessidade somente em última instância para que não só o futebol, como também a sociedade, possam ter a segurança de justiça e equilíbrio proporcionados pela convergência de boas práticas administrativas.
O site para doação corinthiana enfrentou problemas nas primeiras horas no ar devido a alta demanda de doações instantâneas ao anúncio Em 24 horas, mais de R$7,5 milhões já foram transferidos por meio do pix da vakinha. Criado para realização da Copa do Mundo da FIFA em 2014 e palco da abertura da competição no Brasil, a arena situada em Itaquera, Zona Sul da capital paulista, tem sido a casa do alvinegro desde que deixou o estádio do Pacaembu em 2013.