Por Gabriele Brittes/ Superávit Caseiro
O Brasil tem uma das maiores economias do mundo, mas continua entre os países mais desiguais. Apesar de avanços recentes, como a redução da pobreza extrema, dados do IBGE divulgados na reportagem de O Globo (2024) indicam que, em 2023, 4,4% da população vivia nessa condição — o menor nível registrado. Ao todo, 8,7 milhões de brasileiros saíram da pobreza.
Os números mais recentes, citados em reportagem do G1, mostram que 28,8 milhões de crianças e adolescentes brasileiros vivem em pobreza multidimensional, segundo dados do Unicef. Isso significa que, em pleno 2025, quase um terço da população entre 0 e 17 anos sobrevive sem acesso a direitos básicos como saneamento, água potável, educação e moradia digna.
Embora o número tenha caído 16% desde 2017, permitindo que milhões respirassem aliviados, a distribuição de riqueza permanece travada. Os números, por mais relevantes que sejam, contam apenas parte da história.
A raiz da desigualdade
A explicação remonta à história. O Brasil herdou três séculos de escravidão, seguidos por políticas que ignoraram a inclusão de negros e pobres no projeto de desenvolvimento nacional. Não é por acaso que, ainda hoje, trabalhadores negros recebem salários significativamente menores do que os de pessoas brancas, mesmo em funções similares. A exclusão não é um acidente: é um sistema que se perpetua silenciosamente a cada geração.
A desigualdade também se reflete nas oportunidades. Enquanto jovens de famílias mais ricas ocupam vagas em universidades e empregos formais, quase metade dos adolescentes das periferias segue à margem: sem estudar, sem trabalhar, sem perspectivas. Escolas sem infraestrutura, professores desvalorizados e a falta de políticas para a primeira infância agravam esse ciclo.
O abismo digital é outro reflexo da desigualdade. Apesar da ampliação do acesso à internet, milhões ainda permanecem desconectados, excluídos de um mundo que gira em torno das telas. Sem habilidades digitais, essas pessoas são empurradas para a informalidade, onde a precariedade é regra. Enquanto isso, representantes das classes mais favorecidas consolidam vantagens em um mercado cada vez mais competitivo.
A geografia da exclusão
Os dados destacados pelo G1 mostram que a desigualdade no Brasil tem CEP, cor e classe social. No Norte e no Nordeste, estados como Pará e Maranhão registram quase 90% das crianças vivendo em privação. Em São Paulo, esse percentual cai para 31,8%. Nas zonas rurais, 95% dos jovens não têm acesso a saneamento básico, contra 28% nas cidades. Crianças negras, herdeiras de um passado de escravidão nunca reparado, representam 63% das vítimas da pobreza multidimensional, enquanto entre as brancas esse número é de 45%.
Programas sociais, como o Bolsa Família, criado em 2003, ajudaram a tirar milhares de famílias da pobreza extrema e desempenharam um papel fundamental no combate à desigualdade. No entanto, desafios como a insegurança alimentar, que ainda afeta 5% dos jovens, e a persistência do trabalho infantil, presente em 3,4% das crianças, mostram que há um longo caminho a percorrer.
A conta da desigualdade no Brasil
O crescimento do PIB nem sempre se traduz em desenvolvimento real. No Brasil, 28,8 milhões de crianças ainda vivem sem acesso a direitos básicos — um problema que precisa estar no centro de qualquer projeto de nação. A estrutura tributária atual contribui para essa desigualdade: segundo dados do IBGE, os 10% mais ricos concentram 49,8% da renda nacional.
O país já demonstrou ser capaz de reduzir a pobreza, mas o combate à desigualdade precisa ser tratado como prioridade. Medidas como a tributação de grandes fortunas, a universalização do saneamento e investimentos contínuos na educação pública são essenciais para garantir oportunidades reais para todos. Construir um futuro melhor exige agir agora, garantindo que todos tenham um presente digno.