Por Camila Fernandes/Assessora de Investimentos
Com apenas um clique, você pode aprender a investir seu dinheiro ou cair em uma armadilha financeira. Bem-vindo à era dos influenciadores de finanças
Nunca foi tão fácil acessar dicas sobre investimentos e finanças pessoais. Nas redes sociais, uma geração de influenciadores está transformando a maneira como aprendemos a lidar com o dinheiro. Instagram, TikTok e YouTube, entre outros, tornaram-se salas de aula digitais onde o conhecimento financeiro é apresentado em vídeos rápidos, carrosséis informativos e transmissões ao vivo. Mas, em meio a essa revolução tecnológica, surgem questões importantes: até que ponto podemos confiar nesses conteúdos? Como separar informação de qualidade de meros discursos persuasivos?
Brasil: O País dos Influenciadores
O Brasil não é apenas o país do futebol e do samba, mas também o líder mundial em número de influenciadores digitais no Instagram. Segundo uma pesquisa realizada pela Nielsen e divulgada pelo portal Consumidor Moderno, o país conta com mais de 10,5 milhões de influenciadores na plataforma. Destes, cerca de 500 mil criadores possuem perfis com mais de 10 mil seguidores. E quando incluímos YouTube e TikTok nessa conta, o Brasil continua em destaque, ocupando a terceira posição no ranking global.
Essa explosão de criadores de conteúdo reflete não apenas o crescimento das redes sociais, mas também uma demanda por informações práticas e acessíveis especialmente em educação financeira.
O Poder da Educação Financeira nas Redes Sociais
Essa realidade mostra que os influenciadores não estão apenas moldando tendências, mas também sendo pontos de descoberta para milhões de pessoas. E sabe o que é mais incrível? É que esses influencers, se adaptam com facilidade às mudanças recorrentes das plataformas e ainda conseguem pensar e agir conforme a sua audiência espera, ou seja, falam a língua desta audiência e produzem conteúdos contando uma história próxima à sua.
Nas redes sociais, o conhecimento financeiro é democratizado de formas criativas. Vídeos curtos no TikTok, reels no Instagram e tutoriais no YouTube simplificam conceitos complexos como investimentos, poupança e planejamento financeiro. Influenciadores usam linguagem direta, exemplos do dia a dia e recursos visuais atraentes para descomplicar o mundo das finanças.
Diferentes criadores oferecem conteúdos personalizados para iniciantes, investidores avançados, mulheres investidoras, e muito mais. Essa diversidade ajuda a quebrar estereótipos e atender públicos que historicamente não tinham acesso à educação financeira.
Cada vez mais, os influenciadores estão num processo não só de conversão, mas também de descoberta, destaca Alessandro Gil, VP da Wake. Quando a mensagem vem de alguém que fala a sua língua e compartilha uma história próxima à sua realidade, a chance de impacto é muito maior.
A cada dia surgem mais influencers de finanças mundo afora
Inteligência Artificial: Personalização e Precisão
A Inteligência Artificial (IA) tem um papel crucial nessa transformação. Os algoritmos das plataformas personalizam o conteúdo com base em comportamentos de navegação, garantindo que cada usuário receba informações financeiras alinhadas aos seus interesses e necessidades. Ferramentas de IA também ajudam os influenciadores a entenderem melhor suas audiências e criar conteúdos sob medida.
Os conteúdos ainda causam interações entre várias pessoas de muitos lugares do mundo, através de comentários, todos podem contar o que acham ou pensam sobre o assunto, e ainda, falar de suas experiências.
Além disso, chatbots e assistentes virtuais estão auxiliam os influenciadores na interação com seus seguidores, respondendo a perguntas frequentes e oferecendo informações em tempo real. Essas tecnologias tornam a educação financeira mais eficiente e acessível.
Desafios: a falta de qualificação e a desinformação
Porém, nem tudo é positivo nesse novo cenário. Muitos influenciadores financeiros não possuem formação acadêmica, certificações ou experiência prática em finanças. Alguns compartilham conselhos baseados em experiências limitadas, promovem ganhos rápidos e ignoram os riscos envolvidos.
Influenciadores financeiros e o risco para o investidor
Muitos desses influenciadores não possuem formação acadêmica, certificações ou experiência prática robusta em finanças e investimentos. Algumas informações compartilhadas vêm de experiências pessoais limitadas ou até mesmo de práticas inadequadas. E o problema não é apenas a falta de credenciais, mas o impacto que conselhos errados ou inadequados podem ter sobre quem os segue.
Enquanto isso, muitos profissionais qualificados, que estudaram, possuem diploma de graduação, MBAs, certificações reconhecidas pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), seguem regulamentações rígidas, precisam ser extremamente cuidadosos no que dizem publicamente.
Muitos desses profissionais são fiscalizados e limitados em suas falas e produções de conteúdo para proteger o investidor e garantir que nenhuma informação seja mal interpretada. Eles precisam:
• Seguir regras rígidas de compliance.
• Não prometer retornos.
• Oferecer conteúdos educacionais sem indicar produtos específicos.
• Entre outras…
Por outro lado, influenciadores sem certificação conseguem oferecer dicas e até recomendações de investimentos sem passar pelo mesmo nível de supervisão. E isso traz um risco significativo.
Por que isso é um problema?
1. Risco ao Investidor: quem consome conteúdo pode não perceber que está seguindo conselhos de alguém sem base técnica.
2. Confiança Cega: a popularidade nas redes muitas vezes é confundida com autoridade.
3. Impacto Real: erros podem custar caro para quem aplica seu dinheiro baseado apenas em uma recomendação viral.
A necessidade de fiscalização equilibrada
A atuação de influenciadores digitais no setor financeiro tem chamado a atenção de órgãos reguladores no Brasil, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central (Bacen). A CVM, responsável pela supervisão do mercado de capitais, tem adotado medidas para monitorar e regulamentar as atividades desses influenciadores.
Em abril de 2022, a CVM divulgou um estudo sobre a possível regulamentação da relação comercial entre influenciadores digitais e participantes do mercado de valores mobiliários. Posteriormente, em novembro de 2023, a autarquia abriu uma consulta pública para receber comentários e sugestões sobre a atuação desses influenciadores no mercado de capitais.
Pode-se ver que já uma preocupação, e a CVM vem tentando estender a fiscalização a todos os que produzem conteúdos financeiros, independentemente de serem influenciadores ou profissionais qualificados. A responsabilidade e a ética devem ser universais quando se trata de finanças, pois o impacto pode afetar a vida e o patrimônio de muitas pessoas.
Enquanto isso não acontece totalmente, é essencial que cada pessoa:
• Verifique a qualificação dos criadores de conteúdo financeiro.
• Busque profissionais certificados quando o assunto for investimento sério.
• Desenvolva uma visão crítica para diferenciar educação financeira de simples opiniões.
Educar-se é sempre importante, mas educar-se com fontes confiáveis faz toda a diferença.
Redes sociais ajudam a disseminar todo o tipo de conteúdo sobre finanças
Impactos positivos na sociedade
Apesar dos desafios, os influenciadores têm desempenhado um papel importante na democratização da educação financeira:
- Acesso fácil à informação: pessoas de diferentes classes sociais e regiões têm acesso a conteúdos financeiros que antes eram restritos a uma elite.
- Linguagem simples e exemplos práticos: conceitos financeiros são apresentados de forma clara, incentivando o aprendizado e a aplicação prática.
- Mudança de comportamento: histórias de superação e dicas reais inspiram seguidores a adotarem hábitos financeiros mais saudáveis.
- Redução do endividamento: estratégias para evitar dívidas e melhorar o planejamento financeiro ajudam a equilibrar as finanças pessoais e familiares.
- Empoderamento social: o conhecimento financeiro dá às pessoas a autonomia para tomarem decisões informadas, construírem patrimônio e garantirem um futuro mais estável.
Novas gerações apresentam facilidades para falar a língua dos mais jovens
Tendências futuras: IA e realidade aumentada
O futuro da educação financeira digital promete ser ainda mais tecnológico. Ferramentas de IA, realidade aumentada e simuladores financeiros permitirão experiências imersivas e personalizadas.
Conclusão
As redes sociais deram voz a uma nova geração de educadores financeiros. A tecnologia e a inovação estão revolucionando o acesso ao conhecimento, mas também exigem responsabilidade. Cabe a cada um de nós discernir entre conteúdos de qualidade e armadilhas digitais. Afinal, na era dos influenciadores e da inteligência artificial, educar-se com fontes confiáveis não é apenas uma escolha, é uma necessidade.