Por Enrique Carvalho Bohm/Superávit Caseiro
O diálogo comum sobre a manutenção mensal de uma empresa gira em torno do faturamento e dos custos. O funcionário, dentro dessa equação, é um fator que gera ônus e bônus para a companhia, mas quais exatamente são esses fatores? Uma rápida busca no Google pelos termos “trabalhador” e “valor” traz resultados que visam esclarecer os encargos trabalhistas, uma matemática rígida que não se aprofunda em fatores menos óbvios. Há, entretanto, muitos outros elementos que alteram a percepção do empregador em relação aos seus funcionários na hora de decidir se vai mantê-los, demiti-los ou contratar mais um.
Em busca de um esclarecimento mais aprofundado sobre o tema, o Superávit Caseiro entrevistou o professor Marcelo Oliveira Passos, do curso de Economia da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), para esclarecer dúvidas comuns. O professor destaca que os gastos com funcionários representam, em média, de 25% a 30% do faturamento mensal de uma empresa tradicional, com variações conforme o setor. O foco do empresário, nesse contexto, está em maximizar o lucro dentro da margem da folha de pagamento. Para isso, é fundamental explorar a produtividade marginal, que se refere à produção adicional do trabalhador que supera o custo de sua manutenção pela empresa.
Quanto maior a compreensão do serviço e a quantidade de produção de um trabalhador no ramo em que se especializou, menos custos ele geraria à empresa, tornando-se assim mais valioso para o empregador. Por exemplo, um cozinheiro com anos de experiência e sabe como executar sua função com mais eficiência em menos tempo é mais lucrativo do que dois cozinheiros novatos. O que pode indicar que se um trabalhador está tomando conta de um setor sozinho, é provável que a substituição por um “novato” seja expressivamente mais custosa que eventuais reajustes salariais. Mas a experiência não é o único fator.
O professor de Economia explica que “a Vale, por exemplo, é mais produtiva que a Petrobras. A empresa tem menos trabalhadores, enquanto o setor de petróleo exige mais mão de obra, sendo que a Vale utiliza principalmente máquinas. […] A riqueza gerada por trabalhador é maior”. Ele acrescenta que, quanto mais automatizado for o processo de produção, mais lucrativo se torna cada funcionário para a empresa. A redução dos custos com o trabalho, devido ao uso de máquinas, faz com que o valor individual de cada trabalhador aumente.
Os fatores mencionados impactam diretamente na receita marginal gerada por um funcionário. Para determinar a lucratividade máxima da empresa, é necessário que a receita marginal produzida pelo trabalhador se iguale ao custo marginal. Marcelo explica: “Ao contratar um funcionário a mais, ele irá gerar um acréscimo tanto na receita quanto no custo. Enquanto a receita marginal for superior ao custo marginal, compensa contratar um novo funcionário.” No entanto, quando o custo iguala a receita, a contratação de um novo trabalhador resultaria em um déficit nas contas.
Qual é, teoricamente, o custo de um funcionário?
Considerando o salário mínimo do último ano, fixado em R$ 1.320,00, é possível realizar uma série de cálculos para entender os custos totais de manter um funcionário. Para o empregador, os encargos trabalhistas são custos adicionais impostos pelo Estado para a operação do negócio, enquanto, para os trabalhadores, representam direitos conquistados ao longo de décadas. São eles:
● INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) – é 20% do salário bruto do funcionário (264,00).
● FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) – é 8% do salário bruto do funcionário (105,60).
● 13º salário – é um pagamento referente a um mês de trabalho prestado.
● Férias – o funcionário tem direito a um mês de férias remuneradas por ano e com acréscimo de um terço do salário (440,00).
Dos encargos acima, dois são mensais e dois anuais. Podemos afirmar que o gasto de manter um trabalhador que recebe um salário mínimo é de R$ 1.689,60. Os gastos anuais seriam de R$ 22.404.80. Esses valores não abrangem o vale-trasporte e o vale-refeição, que seriam valores que variam conforme a região.
Para uma pequena empresa brasileira com receita anual de R$ 360 mil, cerca de 30% desse valor — R$ 108 mil — é destinado à folha de pagamento, o que permite a contratação de quatro funcionários com remuneração equivalente a um salário mínimo. Esse cenário demonstra que, além do custo direto, fatores como produtividade, experiência e automação desempenham um papel crucial no valor gerado por um trabalhador para o empregador.
Esse contexto revela que o valor de um funcionário vai além de números fixos. Ele considera também aspectos como experiência, adequação ao setor, automação do ambiente de trabalho e produtividade. Para o empregador, é fundamental registrar esses fatores para avaliar a equipe. Para o funcionário, é importante compreender os critérios de avaliação e saber que seu valor no trabalho é influenciado por elementos que ele pode controlar e outros que estão além de sua vontade. Com essa consciência, os trabalhadores podem identificar mais oportunidades para progredir na carreira.
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