Por Everton Iberse/Superávit Caseiro

A BlackRock é a maior gestora de ativos do mundo. A empresa estadunidense possui investimentos ao redor de todo o globo que somam juntos mais de 10 trilhões de dólares.

Fundada em 1988 por Larry Fink, atual presidente e CEO, após sua saída do First Boston, a BlackRock se tornou uma líder global em investimentos e passou a ser considerada por muitos players do mercado financeiro como a dona do mundo. A empresa fechou o primeiro trimestre de 2024 com um patrimônio sob gestão de U$ 10,5 trilhões, aproximadamente cinco vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, ou a soma do PIB das três maiores economias da Europa: Alemanha, Reino Unido e França.

A BlackRock detém participações consideráveis em diversas empresas do mundo, como a Apple com 6,79% de todos os papéis, e a farmacêutica Pfizer, com 7,61% da companhia. Ao olharmos para o Brasil nesse sentido, a gestora possui participações em diversas empresas como a Vale, detendo mais de 6% das ações, Itaú com mais de 4% e até mesmo tendo participação na própria Bolsa de Valores brasileira, a B3, com quase 5% dos papéis da companhia.

Mas afinal, o que a BlackRock faz?

A empresa é especializada na gestão de fundos e índices, oferecendo ativos de renda fixa, ações e investimentos alternativos. Desde sua fundação, seu principal papel é buscar equilíbrio entre risco e retorno para seus investidores, dando origem a Aladdin (Asset Liability and Debt and Derivative Investment Network), um sistema que integra dados reais (macroeconômicos, ambientais, taxas, etc) e calcula diferentes projeções de performances, dando maior previsibilidade acerca dos investimentos.

Tabela 1: Exemplo de projeção de performance calculada pelo Aladdin

Imagem: O Joio e o Trigo

A ferramenta é capaz de monitorar mais de 2000 mil fatores de riscos diariamente. Em outras palavras, alguém que vá investir numa empresa do setor alimentício consegue ter acesso não só aos dados da companhia, mas das previsões climáticas e macroeconômicas do local em que ela está estabelecida. Em uma entrevista Fundspeople, a responsável de negócios e estratégias multiativas EMEA na BlackRock, Stephen Crocombe diz: “Podemos usar a Aladdin para dizer aos gestores que podem assumir riscos nos quais não tinham pensado”.

Através do seu sistema de integração de dados, a BlackRock oferece fundos de gestão ativa, onde seleciona individualmente cada ativo. Através de sua outra ferramenta, a IShares, os fundos de gestão passiva replicam índices do mercado, dando ampla diversificação a baixo custo para quem investe

No Brasil, a gestora oferece 5 ETFs (Exchange Traded-Funds) e 140 BDRs de ETFs. O mais popular deles é o IVVB11, que replica o S&P 500, ou seja, as 500 maiores empresas dos Estados Unidos. Em suma, ao comprar uma cota do IVVB11 através da bolsa de valores, o dinheiro se tornará parte dos 10 trilhões.

Tabela 2: BDRs e ETFs geridos pela BlackRock no Brasil | Fonte: B3

O poder da BlackRock

Um lado da moeda tem como principal crítica para a companhia sua grande concentração de poder em mãos. O investidor, ao aplicar seu dinheiro através dos fundos da gestora, abre mão de seu voto em troca da tranquilidade e segurança da companhia, que pega para si a função de defender os interesses de seus investidores.

Segundo seus críticos, o peso da voz de uma empresa como a BlackRock que detém sozinha 6% de uma corporação se torna desigual quando posto de frente a outros investidores. Para viés de comparação, Bill Gates, o fundador da Microsoft possui apenas 1,22% das ações da empresa, enquanto a gestora estadunidense possui 7,35%.

Do outro lado, é argumentado que a presença tão massiva em todo o globo torna impossível a participação em momentos decisivos, como disse Matt Levine em um artigo para a Bloomberg em 2021: “O fato é, eles tem todas as companhias do mundo, então não se importam verdadeiramente com nenhuma, da forma que os acionistas tradicionais fazem”.

Quem vê por essa ótica ainda acrescenta que a gestora, além de achatar o processo de votação, infla artificialmente o preço das ações, visto que a demanda é automatizada através dos índices e ETFs, e os papéis não são considerados pelos seus fundamentos.

Por fim, outra crítica pertinente à BlackRock é sobre a monopolização da cadeia produtiva que ocorre em diversas indústrias diferentes. Em um levantamento realizado pela equipe do jornal O joio e o trigo, a empresa estadunidense possuía investimentos em todas as etapas do processo de produção alimentícia, indo de empresas de fertilizantes à produtoras de gado e de ultraprocessados. Essa atitude mina a livre concorrência de mercado, visto que, ao ganhar de todos os lados, torna-se contra produtivo diminuir os preços.