Kaique Cangirana/Superávit Caseiro

Os livros são ferramentas fundamentais para a educação financeira da população. Um estudo realizado pelo Global Financial Literacy Excellence Center (GFLEC) e pela FINRA Investor Education Foundation em 2016 apontou que alfabetização financeira está positivamente correlacionada com habilidades de leitura. Camila Fernandes, assessora de investimentos da XP Investimentos, é uma das autoras do livro “Dinheiro Inteligente”, lançado neste mês pela editora Chave Mestra, de São Paulo. Na entrevista concedida ao Superávit Caseiro ela falou do livro e de diversos temas relacionados à educação financeira, administração de capital, dentre outros assuntos.

Livro Dinheiro Inteligente foi lançado neste mês pela Editora Chave Mestra

SUPERÁVIT – Como foi sua trajetória  e experiência com gestão financeira até sua participação no livro “Dinheiro Inteligente”?

Fui convidada pela editora Chave Mestra para ser uma co-autora desse livro como   assessora de investimentos e que há quatro anos trabalha no mercado financeiro. A ideia era ter vários players do mercado financeiro,  pessoas que estão envolvidas no mercado como assessores de investimentos, consultores, economistas, professores, psicólogos, de modo geral, pessoas dessa área. No livro “Dinheiro Inteligente”, 29 especialistas escreveram 29 capítulos deste que é um guia prático e abrangente para o desenvolvimento da inteligência financeira, para o aprendizado e  a gestão de finanças. Nós não tínhamos educação financeira na escola, antes de me tornar assessora, trabalhei como professora e dei aula de matemática por nove anos e meio. Sou formada em Matemática (licenciatura) e tenho pós-graduação no ensino de matemática e física, mas também me graduei e fiz mestrado em Engenharia de Produção. Sempre falo que a gente não recebeu educação financeira porque sei que ensinei tudo para os meus alunos, desde trigonometria, equação do segundo grau, fórmula de Bhaskara, mas muito pouco sobre educação financeira, no máximo, juros simples e compostos, mas a cuidar do dinheiro, não. Como professora e acadêmica,  não tinha educação financeira como também não era ofertada aos meus alunos. Então, a ideia principal do livro é que a pessoa aprenda a lidar com as suas finanças e desenvolva a sua inteligência financeira, desde entender quanto ganha, quanto gasta, o que que é gasto fixo ou gasto supérfluo. É importante ter uma qualidade de vida e também pensar no seu eu do futuro, na sua aposentadoria. Eu sempre falo que é sobre realizações, não é sobre ter dinheiro, mas sobre realizações como ter a casa própria, o carro próprio, liberdade de tempo, liberdade geográfica e liberdade financeira.    

SUPERÁVIT – Como você descreveria sua atuação profissional, refletindo sobre a importância da educação financeira e as possibilidades para investir?

No capítulo 6 do livro, escrevi sobre investimentos para iniciantes (fundamentos financeiros), mas  o livro conta com diversos players do mercado financeiro como consultores de investimentos, economistas e até psicólogo. Há inclusive, pessoas que trabalham com estratégias de investimentos para que outras pessoas alcancem seus objetivos. As corretoras oferecem um teste de perfil para avaliar se o investidor é conservador, moderado ou agressivo. Após este processo, o investidor define seus objetivos de curto, médio e longo prazo e o assessor realiza o trabalho de relacionamento apresentando as possibilidades de investimento convergentes ao objetivo do cliente. Alguns objetivos são: comprar um carro, comprar uma casa, viajar, obter liberdade financeira, geográfica, garantir uma boa aposentadoria, entre outros. No livro, falamos muito sobre a mentalidade financeira e o bem-estar financeiro. Como a maioria das pessoas não teve essa educação nas escolas, não sabem fazer um planejamento ou um orçamento financeiro. Primeiro, precisamos entender a situação onde estamos e até fazer perguntas que parecem obvias, como: Quanto você ganha? A maioria das pessoas não sabe quanto ganha ou gasta. Há gastos supérfluos que às vezes nem percebemos. Não que a qualidade de vida tenha que ser ruim, você tem que viver bem, mas também pensar no seu eu do futuro. A diversificação, pode ser resumida como ‘não colocar todos os ovos numa única cesta’, pois é preciso ter a consciência de possuir investimentos em renda fixa, renda variável, fundos imobiliários ou outros investimentos que estejam de acordo com o perfil do investidor. Atrela-se aos tipos de investimentos e depois disso, as estratégias para que alcance esse objetivo. O assessor trabalha ao lado do cliente para que este possa realizar bons investimentos e chegar em seus objetivos a curto, médio e longo prazo, superar cenários de endividamentos e alcançar bons resultados em suas finanças e desenvolvimento de sua inteligência financeira. O cliente pode começar a economizar mais, criando o hábito de investir todos os meses para que atinja os seus objetivos e tenha uma aposentadoria tranquila, até porque quando a gente fica mais velho, gastamos mais com médicos, remédios e tratamentos. Um ponto muito importante trabalhado no livro é a psicologia dos gastos. Há pessoas que compram para se sentir bem ou por ter algum problema emocional. Minha área não é essa e inclusive falamos muito sobre a questão financeira e minha formação na Matemática, mas nem tudo é cálculo ou QI. Há uma grande necessidade de consciência emocional e controle de emoções para que consigamos fazer uma gestão significativa do dinheiro, fugindo do ‘comprar para me sentir bem’ ou coisas do tipo.

Camila durante o lançamento do livro Dinheiro Inteligente

SUPERÁVIT – Como você observa a relação entre bancos e corretoras e também o acesso à informação com conteúdos financeiros e o suporte dos profissionais do mercado?

Existem trilhões de reais ainda na poupança e a corretora é especializada em investimentos de diversos tipos. Os bancos oferecem apenas seus próprios investimentos. Na corretora, trabalha-se melhor com as taxas, fora as possibilidades em renda fixa como CDB, LCA, LCI e a renda variável como as ações, fundos imobiliários, fundos multimercados, fundos internacionais e criptomoedas. No fim, a corretora terá a mesma fiscalização do banco, feita pelo Banco Central (Bacen) e pela Comissão de Valores Imobiliários (CVM). Pode existir medo por parte das pessoas e por isso que é importante o livro, a educação financeira que acontece hoje através das redes sociais, do YouTube ou pelo Instagram. As pessoas vão conhecendo mais. Acredito que se elas se dedicassem 10 minutos do seu dia assistindo o básico de finanças, iriam entender diferenças como a do banco e a corretora, iriam saber que há profissionais no mercado financeiro que conseguem ajudar elas, tipo o assessor de investimento. É importante destacar também, a importância de selecionar o conteúdo que acessa, certificando-se da credibilidade, confiança e reputação de conteúdos e canais, assim como a experiência de mercado, graduação e certificação de influenciadores que falam sobre o mercado, não aceitando qualquer conteúdo.

O assessor de investimentos apresenta possibilidades para investir de acordo com o perfil do cliente. Como a pessoa iria escolher o investimento se ela não entendesse nada? Então, a ideia é que as pessoas entendam pelo menos o básico. Claro que há impeditivos como a falta de tempo, uma das dificuldades, mas para isso existem os profissionais do mercado financeiro. Como assessores de investimento, a primeira coisa que instruímos é ter uma reserva de oportunidades. Prezando pela liquidez da reserva financeira, você se protege frente a emergências que exijam o acesso rápido ao dinheiro. Para a reserva, há opções bem mais rentáveis que a poupança. Também depende do perfil, se a pessoa é conservadora, terá uma carteira bem mais forte na renda fixa. Se a pessoa é moderada, ela já assume um pouquinho mais de risco e se a pessoa é mais agressiva, já vai ter outra composição de carteira com ações, fundos imobiliários, fundos internacionais e etc. Há pessoas com focos e perfis diferentes, seja em renda fixa ou variável. Todo mundo fala da criptomoeda que é apenas a ponta do iceberg, é o mais volátil de todos os investimentos. 

Além de atuar como profissional no mercado financeiro, Camila também leva temas pertinentes e contribui em suas redes sociais para ajudar as pessoas a desenvolver a sua inteligência financeira. Em meio a tantas oportunidades e acesso à informação, investir se tornou um caminho viável para alcançar a independência financeira, se educar financeiramente depende de esforço e dedicação e pode se tornar um caminho muito mais tranquilo junto a aprendizados essenciais como os citados nesta entrevista. O desenvolvimento da administração financeira é missão de todos aqueles que prezam por uma sociedade mais consciente e independente.