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Justificativa

As sociedades contemporâneas têm passado por profundas transformações sociais nas últimas décadas. Dentre estas, destacam-se aquelas referentes ao mundo do trabalho, às formas de gestão e organização das grandes empresas capitalistas. As pesquisas no âmbito da sociologia do trabalho indicam que um novo paradigma produtivo vem sendo implementado desde meados dos anos setenta e, particularmente no Brasil, desde os anos oitenta e noventa. Assim, o paradigma fordista-taylorista estaria dando lugar a um novo modelo de gestão e organização do trabalho, normalmente denominado de acumulação flexível, toyotismo, pós-fordismo, dentre outras designações. Os estudos têm destacado que esse novo paradigma produtivo tem provocado importantes efeitos sobre a estrutura da classe trabalhadora e sobre as condições de exercício das atividades laborais, destacando-se processos de fragilização das relações de trabalho e de crescimento do desemprego. A precarização do trabalho, dos vínculos de emprego e das condições de trabalho, tem sido, pois, uma das consequências fundamentais destacadas pela literatura especializada. Essa precarização associa-se tanto às formas de gestão baseadas na terceirização e subcontratação, à multiplicação das formas e relações de trabalho, como ao aumento do estresse e da pressão sobre os trabalhadores impelidos a elevarem sua produtividade no trabalho. Neste sentido, as formas de trabalho intelectual, relacional, de serviços, indicam importantes mudanças no mundo do trabalho, decorrentes da elevação da produtividade do trabalho industrial e da incorporação das novas tecnologias de informação e comunicação. Se, por um lado, essas tecnologias podem provocar um aumento nas exigências de formação e qualificação dos trabalhadores, por outro, elas acarretam novas formas de pressão, estresse e precarização do trabalho, além do próprio desemprego tecnológico.
Num país como o Brasil que ocupa uma posição subordinada na divisão internacional do trabalho, é preciso levar em consideração, ainda, a forte presença das formas clássicas de organização taylorista do trabalho e das chamadas atividades informais. Neste sentido, a análise da realidade brasileira exige que se leve em consideração a velha precariedade estrutural do trabalho, marcada por baixos níveis de proteção social, por uma elevada informalidade e pela heterogeneidade das formas de trabalho (trabalho autônomo, trabalho doméstico, organização familiar do trabalho, formas de trabalho cooperativas, formas de trabalho de subsistência e auto-consumo, etc.). Por todas essas razões, torna-se fundamental monitorar essas transformações do trabalho na região sul do Estado do Rio Grande do Sul, identificando em que medida a precariedade do trabalho está presente no cotidiano dos trabalhadores.
Ao mesmo tempo, é preciso acompanhar as transformações econômicas regionais e medir em que medida elas estão impactando o mundo do trabalho. Nos últimos anos, o país vem experimentando uma nova onda de desenvolvimento econômico, um novo desenvolvimentismo, supostamente mais inclusivo e que tem tido um importante impacto sobre o crescimento do emprego formal. Trata-se, pois, de identificar em que medida esse crescimento tem estado presente nesta região do Estado, considerando-se, principalmente, os grande projetos econômicos que nela têm sido implementados, como o pólo naval, a silvicultura, dentre outros.
Todas essas transformações exigem, pois, um processo constante de reflexão e acompanhamento por parte das instituições sociais e, particularmente, das instituições públicas responsáveis pela implementação de políticas específicas na área do trabalho. Por essa razão, o diálogo e a articulação entre essas instituições é de fundamental importância para o enfrentamento dos problemas decorrentes das mudanças no mundo do trabalho. O presente projeto, portanto, propõe-se a promover esse diálogo e essa articulação, trabalhando para a produção de indicadores, estudos, análises que dêem maior visibilidade e compreensão de uma realidade social em permanente transformação. Ao mesmo tempo, propõe-se promover a interdisciplinaridade, a articulação de conhecimentos diversos, acadêmicos e não acadêmicos, o que se constitui num requisito fundamental para compreender todas as complexas facetas do fenômeno em pauta.

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