Transporte público mergulha no caos em Rio Grande

Por Vitor Porto

A vida do rio-grandino que depende do transporte público para se locomover não anda nada fácil. A história não é nova e se repete Brasil afora, passagens caras, redução de linhas e horários e ônibus sucateados. E essa situação foi agravada ainda mais pela pandemia. 

Durante a crise sanitária causada pela Covid-19, devido a medidas de distanciamento social, houve severas reduções no número de linhas e horários para acomodar a baixa demanda, além de medidas que limitavam a taxa de ocupação dos coletivos. Porém, mesmo após o abrandamento das medidas sanitárias e a volta de demanda por transporte público, a empresa Noiva do Mar, responsável por mais da metade do sistema de ônibus da cidade, não retomou a oferta disponível no período pré-pandemia, que já se mostrava insuficiente para atender a demanda. 

Relatos de usuários que tinham que esperar mais de 1 hora na parada se tornaram comuns. Valéria Vaz, estudante da FURG, conta que diversas vezes perdeu aula por causa dos ônibus: “Antes da pandemia tinham dois (ônibus da linha) Cassino FURG, agora só tem 1 e que nunca passa no horário. A aula começa às 13h30 e tem dias que o ônibus passa 13h na parada (localizada no Cassino). A gente chega atrasado, isso quando o ônibus não quebra.”  

Com a diminuição de horários, a superlotação dos ônibus virou padrão, como relata Ian Bubols, estudante da FURG: “A gente sai da aula antes das 17h30h, não tem condições, todos os ônibus passam lotados, nem param mais na parada da FURG. Às vezes temos que esperar 2 ou 3 ônibus passarem para conseguirmos entrar, e mesmo assim o ônibus vem lotado. Eu chego depois das 19h em casa, todos os dias.” 

Prefeitura rescinde o contrato com a Noiva do Mar 

Após mais de 30 anos dominando o transporte público em Rio Grande, na manhã da sexta-feira, 13, a Prefeitura rompeu o contrato com a Noiva do Mar. Em entrevista coletiva realizada virtualmente, o prefeito Fábio Branco (MDB) alegou as constantes reclamações dos usuários, precarização do serviço e o atraso no pagamento de salários e direitos trabalhistas aos funcionários como motivos que levaram à decisão. 

Em vídeo divulgado nas redes sociais da Prefeitura, Fábio Branco “Tomei essa decisão tendo em vista todas as dificuldades que estão ocorrendo, sejam operacionais, de pagamentos dos colaboradores, falta de investimento.” Explica Fábio Branco em vídeo divulgado nas redes sociais da Prefeitura.

Todas as linhas foram transferidas para a empresa Transpessoal, que já operava cerca de 40% do sistema. A empresa afirmou ter a capacidade de assumir todas as 23 linhas da cidade.

A decisão pegou todos de surpresa, inclusive os funcionários da Noiva do Mar. Em protesto, motoristas e cobradores da empresa bloquearam com os ônibus diversas vias importantes da cidade e se reuniram na frente da prefeitura. 

À tarde, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Rio Grande, Fábio  Machado, foi recebido pelo Secretário de Mobilidade, Acessibilidade e Segurança, Anderson Castro, para negociar a absorção dos funcionários da Noiva do Mar pela Transpessoal. Na segunda, 18, segundo o próprio sindicato, cerca de 70% dos funcionários já haviam sido contratados pela nova empresa, incluindo todos os motoristas e cobradores.

Nova empresa, velhas reclamações

Apesar da incorporação dos antigos funcionários da Noiva do Mar, o começo das operações da Transpessoal foi marcado pelo caos. Poucos ônibus, atrasos e até mesmo motoristas que não sabiam o trajeto. João conta que teve que guiar o motorista. “Ele falou que era a primeira vez na linha e que não conhecia nada dentro da FURG, tive que mostrar o caminho para ele e falar quais eram as paradas.”

O secretário Castro amenizou as críticas, segundo ele, os transtornos nos primeiros dias de operação foram normais, mas que a situação iria se estabilizar ao decorrer das semanas e pediu paciência da população até o serviço se normalizar.

Mas as entidades estudantis da cidade não concordam. O Centro Estudantil Unificado do IFRS (CEU-IFRS) e o Diretório Central dos Estudantes da FURG (DCE-FURG) estão organizando uma manifestação, marcada para sexta-feira, 27, pedindo melhorias no transporte público da cidade. 

As principais reclamações dos estudantes são a falta de ônibus, o corte nos horários, sucateamento dos veículos e a superlotação, principalmente nas linhas que atendem o IFRS e a FURG. Outra queixa dos estudantes é a incompatibilidade dos horários dos ônibus com as aulas. Yan, que estuda de noite na FURG, comenta que precisa sair mais cedo da aula todos os dias para conseguir voltar para a casa. “Ou a gente sai antes de acabar a aula ou ficamos até meia-noite na parada.” 

Vitória Marca, estudante do IFRS e diretora de comunicação do CEU, acrescenta. “A gente quer um transporte coletivo municipalizado, um transporte público, que realmente seja público, que as passagens não sejam exorbitantes…”.

Em resposta a mobilização dos estudantes, a empresa Transpessoal comentou em suas redes sociais que está trabalhando para se adequar aos horários e estuda ampliar a oferta. “Quanto ao ampliamento de horários, temos previsão sim, estamos fazendo análises de demanda para atacar os problemas apresentados.”

Sobre a  precarização dos ônibus, a empresa afirmou: “A frota hoje disponível é mais nova da que era disponibilizada, e com mais carros.”

A Transpessoal também informou que pretende investir na modernização da frota. “Há previsão de investimentos, porém investimentos demoram a dar resultado e aparecer, hoje o prazo médio para receber um ônibus novo está em 5 meses, estamos constantemente em tratativas para adiantar o prazo.” Mas a empresa não especificou a quantidade de ônibus que serão incorporados na frota. 

Nova licitação 

A nova licitação do transporte coletivo ainda deve demorar, segundo Castro. A Prefeitura contratou a FURG para auxiliar na elaboração do Plano de Mobilidade Urbana, que será determinante para estabelecer as diretrizes da nova licitação. Por enquanto, a Transpessoal deve seguir responsável pelo transporte público no município. 

 

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