O olhar mais atual de Cinderela

Foto: Reprodução / Trailer oficial

Por: Maria Clara Morais Sousa

(Essa resenha contém spoilers)

Cinderela é a nova produção original do Amazon Prime. Recriando a obra da Disney como um musical, o filme conta com grandes nomes como Camila Cabello (Cinderela), Billy Porter (Fado Madrinho), Idina Menzel (Vivian), James Corden (o ratinho James) e Nicholas Galitizine (Príncipe Robert), além da direção de Kay Cannon (diretora de A Escolha Perfeita, New Girl e Girlboss), coreografia de Ashley Wallen e trilha sonora de Missy Eliott junto com a protagonista do longa.

O filme nos apresenta a novos personagens entre eles a princesa Gwen (Tallulah Greive) e a rainha Beatriz (Minnie Driver) assim como recria personagens já conhecidos com um olhar mais atual trazendo uma versão sem gênero da fada madrinha, um rei mais autoritário e uma madrasta menos má e mais real.

Uma das partes que mais me encantou no filme foi a nova forma como trataram de Cinderela, tirando a fama que a princesa tem de apenas esperar pelo príncipe para salvá-la. Na animação original da Disney já era demostrado como Cinderela era gentil, sonhadora e trabalhadora, tendo o baile apenas como uma chance de descanso, dessa forma Kay Cannon traz uma princesa encantadora que sonha em ter sua própria loja de vestidos em um reino conservador que enxerga  mulheres apenas como esposas em potencial.

Toda a construção em torno de uma versão mais feminista traz também uma madrasta machucada e que teve seus sonhos de ser uma grande pianista destruídos por um marido que desejava uma esposa submissa e obediente. Assim Vivian começa a acreditar que o casamento é a única função de uma mulher mesmo que isso traga frustrações. Sua ferida e a de muitas outras mulheres é maravilhosamente ilustrada no número musical de “Dream Girl”, uma composição original de Cabello.

Quando se trata de outros personagens é engenhoso como a família real foi remontada nessa nova versão. O rei – interpretado por Pierce Brosnan – é apresentado como uma figura autoritária e arrogante que não provém nenhum espaço para opiniões contrárias às dele, principalmente se vinda de mulheres exemplo de uma imagem perfeita dos homens que estão no poder na nossa sociedade. A princesa e rainha foram criadas de forma semelhante à Cinderela gentis, cheias de ideias e sonhos. Porém barradas pelo conservadorismo, especialmente a princesa Gwen que representaria uma candidata perfeita ao trono entretanto é ignorada pelo pai. 

O final representa a libertação feminina. Mesmo que com uma cena musical tosca é perceptível a inspiração na música latina (devido a descendência de Camila). O desfecho das histórias femininas se move para a realização de seus sonhos e a vitória contra a invisibilidade e preconceito, o símbolo de mulheres no poder se estabelece de forma muito clara com a Gwen na linha de sucessão para o trono do reino. Além disso, o perdão dado a madrasta demonstra quão orgânico e real a história é. Nas palavras da própria diretora “Revelando o tempo em que estávamos filmando Cinderella sua madrasta NÃO má. Não há vilões neste filme”.

Embora o roteiro tenha sido muito bem adaptado para uma versão mais atual é perceptível uma leve romantização da superação do machismo. Obviamente não é possível esperar tanta profundidade de um musical inspirado num conto de fadas, ainda sim quando se trata de um assunto tão sério quanto a libertação das mulheres sobre as amarras da misoginia não se pode simplificar tudo dessa forma. Mesmo que Cinderela seja trabalhadora e se esforce ao máximo para realizar seus sonhos é quase impossível a ideia de uma mulher conseguir vencer num reino tão conservador com um rei tão machista apenas com um amor e determinação, porém já que estamos falando de um filme de comédia isso é perdoável.

As atuações não merecem nenhum tipo de crítica, atores já que os consagrados não deixaram a desejar e Camila brilhou em seu debute como atriz – assim como fascinou com suas habilidades de trilha sonora e composição com “Million to one” e “Dream Girl”. A coreografia e o figurino também merecem todos os elogios por deixaram o longa ainda mais autêntico em sua história.

No geral Cinderela é uma ótima imagem de como princesas estão se tornando mais independentes, mesmo que já fossem antes e apenas tenham sido ofuscadas por visões distorcidas, e os vilões mais reais. Ao final do dia mulheres estão ganhando mais direitos e isso se reflete na indústria cinematográfica assim como passamos a entender que todas as pessoas cometem erros e acertos e é isso que as fazem seres humanos reais.

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