EASY A: Análise e crítica

Por: Rafael Mirapalheta

“A Mentira” (nome original: Easy A), de 2010, é protagonizado por Emma Stone e tem como foco uma adolescente estudante do ensino médio que tem uma falsa história contada a sua amiga espalhada para todo o colégio. Para se livrar de um compromisso, Olive (Emma) afirma que passou o fim de semana com um garoto que conheceu e que com ele perdeu a sua virgindade. Todos os alunos da escola passam a olhar para a personagem diferentemente após a propagação da história, e Emma acaba por perceber uma oportunidade de usar sua nova reputação para ajudar garotos inseguros quanto a prática do sexo.

O longa tem como referência a obra de Nathaniel Howthome, “A Letra Escarlate”, em que seu roteiro é adaptado para a realidade na pele da personagem principal Olive Penthergast. A personagem de Emma Stone, estudante de ensino médio, é uma jovem que se sente deslocada dos grupos dentro da sua escola e acaba contando para sua melhor amiga Rhiannon que perdeu a virgindade com um homem universitário para se livrar de um compromisso no fim de semana e se sentir parte das conversas da menina. No entanto, o assunto se espalha após a intrometida Marianne escutar a conversa delas no banheiro e o falso ocorrido se torna público.

Isso faz com que Olive se torne popular pela primeira vez e resolva usar isso a seu favor. Mesmo com todos em seu redor comentando sobre o falso acontecimento, ela não se importa e trata tudo isto com bom humor. Inclusive, passa a ajudar seu amigo gay que não quer mais ser provocado pelos valentões fingindo transar com ele em uma festa. Alguns alunos descobrem o que a garota fez para ajudar o necessitado, e a garota passa a elaborar cada vez mais mentiras sobre ter se relacionado com eles para aumentar suas reputações, em troca de presentes e dinheiro.

É válido destacar também que entre algumas partes do longa, a personagem principal aparece falando diretamente com a câmera e contando toda a sua história. A medida faz com que ele seja dividido por capítulos e, além de aguçar a curiosidade do espectador, dá uma dinâmica bastante balanceada para o andamento do filme. No final é revelado que todas cenas fazem parte de uma transmissão pela web da garota afim de relatar toda sua história para os alunos.

O filme tem um roteiro bem trabalhado para fugir dos constantes clichês dos filmes com a temática “popularidade no ensino médio”. O mais interessante de “A Mentira” é justamente ele ter como foco central pontos não tão explorados por este tipo de tema, como o sexo e o quanto a mentira é constantemente usada e acaba se tornando benéfica aos alunos adolescentes, por conta de uma pressão da sociedade.

A atuação da protagonista é bastante convincente e original. Até mesmo por isso, Emma Stone foi indicada ao Globo de Ouro de melhor atriz de comédia no ano de 2010. Suas reações e expressões se encaixam muito bem com o roteiro, o que maximiza bastante o fator cômico nas cenas. Além dela, o elenco de suporte também cumpre seu papel muito bem, cada um exercendo os tipos de personalidades tradicionais de uma escola de ensino médio, como o nerd, a patricinha, a popular, a metida, etc. Destaque também para a atuação dos pais de Olive (Patrica Clarkson e Stanley Tucci), que são apresentados como dois adultos bastante alternativos. O desempenho dos atores se torna fundamental para que a comédia funcione como funcionou.

Pela temática do filme, os cenários não fogem do esperado e por ventura não é ponto forte do longa. A maioria das cenas se passa dentro da casa de Olive e na escola, sem muito espaço para explorar e até mesmo produzir cenas visualmente mais elaboradas. Dentro do contexto, os cenários são razoavelmente satisfatórios para servir de base ao roteiro.

Já a trilha sonora tem papel importante em diversos momentos ao longo do filme. Destaque para dois exemplos; o primeiro é em relação a música tocada de forma consecutiva enquanto Olive passava o fim de semana em casa, a qual ela desprezou no começo mas acabou se rendendo e ouvindo-a sem parar. Posteriormente, ela é usada mais uma vez como cena cômica ao nos ser apresentada como toque do celular da garota. O segundo momento é na cena em que Olive decide ir a fundo com a pose de “liberal” dentro da escola e começa a separar roupas descoladas e ousadas para se vestir. A trilha que dita o ritmo da cena é a acelerada música “Bad Reputation”, do Joan Jett & The Blackhearts, em que a letra trata justamente sobre “não ligar sobre sua reputação” e “fazer o que você estiver a fim”. A escolha da música foi perfeita para casar com os acontecimentos, sendo apenas uma das boas escolhas do filme no quesito.

O figurino é bastante variado e colorido. As cores utilizadas tem predominâncias fortes e tons chamativos, o que combina com o clima leve e alegre dos ambientes e de todo o contexto do roteiro.

Em relação ao tipo de plano usado nas filmagens, o filme apresentada todos. No entanto, os mais utilizados são o Primeiro Plano e o Primeiríssimo plano. Há diversas cenas de diálogos em que estes dois planos são alternados em cortes ágeis e muitas vezes secos, ocupando o espaço da tela por um tempo considerável e fazendo o espectador se acostumar com a visão aproximada dos personagens.

O Plano Médio, o Plano Americano e o Plano Geral são utilizados ao retratar personagens conversando ao caminharem nas cenas da escolas, até mesmo com o intuito de valorizar a paisagem em algumas cenas. O uso da câmera é bastante coerente com o roteiro do filme e com as reações dos personagens. Um uso de destaque é o recurso do “travelling”. Para retratar o boato sobre Olive sendo propagado na escola: para isso, a câmera aparece em movimento acelerado e levemente desfocada levando espectador até diversas áreas do colégio. Parando apenas para mostrar as pessoas passando a informação umas para as outras e continuando o percurso.

Em virtude da análise feita, podemos concluir que “A Mentira” executa muito bem o que se propõe a fazer: ser um filme leve, divertido e com força no roteiro. E também mostra claramente o quanto a atuação do personagem principal é importante para o sucesso ou insucesso das produções. E neste caso, Emma Stone aproveitou a temática e a boa escrita dos criadores para desempenhar uma ótima performance e se lançar no mundo do cinema.

Foto: Divulgação

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Ficha técnica

Gênero: Comédia

Direção: Will Gluck

Elenco: Emma Stone, Penn Badgley, Amanda Bynes, Dan Byrd, Thomas Haden Church, Patricia Clarkson

Produção: Adam Sandler, Jack Giarraputo, Allen Covert e Tim Herlihy

Fotografia: Zanne Devine e Will Gluck

Trilha Sonora: Rupert Gregson – Brad Segal

Duração: 92 min.

Ano de produção: 2010

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