Amor pela comunicação, checagem de fatos e representatividade: Festival 3i traz reflexões para o jornalismo brasileiro

Festival reuniu comunicadores de oito países para discutir o futuro do jornalismo

Por Vitória de Góes

No último final de semana, a Fundição Progresso, no Rio de Janeiro (RJ), foi sede da segunda edição do Festival 3i. O evento contou com painéis que discutiram os novos expoentes da comunicação, o jornalismo investigativo, a importância do uso de dados e o combate à desinformação.

O festival, que tem como objetivo a busca por um jornalismo inspirador, inovador e independente, contou com a participação de mais de 400 ouvintes, entre jornalistas e estudantes de comunicação de vários estados do país.

Na sexta-feira (18), aconteceram diversos workshops, muitos em horários simultâneos, todos voltados para o aperfeiçoamento dos profissionais na parte tecnológica, na segurança de dados e na produção de conteúdos como podcasts e textos em formato digital. 

Um dos workshops, por exemplo, teve como tema “Segurança digital para jornalistas” e foi ministrado pelos coordenadores da Escola de Dados, instituição que já capacitou mais de seis mil pessoas no Brasil para buscar e utilizar dados. A oficina teve como objetivo discutir o transporte de conteúdos sensíveis, evitando vazamentos e protegendo jornalistas e fontes.

O evento contou com painéis que discutiram os novos expoentes da comunicação, o jornalismo investigativo, a importância do uso de dados e o combate à desinformação. Imagem: Divulgação/Projeto Colabora

Já o sábado e o domingo foram repletos de mesas de debate com participação de profissionais da comunicação do Brasil, México, Argentina, Colômbia, Peru, Costa Rica, Espanha e Estados Unidos. Cada um deles tratou de um tema específico e compartilhou sua experiência no mercado de trabalho. E, durante os intervalos, por promoção dos parceiros do evento, Facebook Journalism Project e Google News Initiative, os participantes puderam participar de rápidos bate-papos com representantes de vários canais de comunicação, como Estadão e Uol.

Entre os destaques das mesas estava o jornalista Glenn Greenwald, fundador da agência de jornalismo investigativo The Intercept que, recentemente, revelou diálogos e informações de autoridades e integrantes da Lava-Jato em uma série de reportagens que ficaram conhecidas publicamente como “Vaza-Jato”. Outro destaque foi Giannina Segnini, professora de mestrado em Jornalismo de Dados na Columbia University (EUA). Os dois participaram do bate-papo “O trabalho do jornalista: vazamentos, prospecção de dados e tecnologia”. Além destes, em um outro momento, o comunicador Raul Santiago, organizador do Coletivo Papo Reto, grupo de comunicação independente das favelas do Rio de janeiro, fez parte da mesa “Como cobrir a cidade fora das redações tradicionais” e foi muito aplaudido pelo seu discurso de militância.

Glenn Greenwald, ao ser questionado sobre qual o momento certo para divulgar informações consideradas sigilosas, respondeu: “Todos os dias jornalistas têm que decidir se a informação está dentro do interesse público ou se vai invadir a privacidade e colocar em risco alguma pessoa. Na Vaza-Jato, a grande maioria dos casos mostram duas coisas. Primeiro, que pessoas muito poderosas estavam mentindo para o povo brasileiro sobre coisas graves e importantes. E, segundo, que Sérgio Moro estava fingindo ser neutro. Então, como nós, como jornalistas, temos o direito de esconder isso do povo brasileiro?”.

 

Momento de mudanças

Os pontos repetidos em inúmeras mesas foram a paixão pelo jornalismo e a necessidade de se adequar aos novos canais, além da importância de construir credibilidade e estar cada vez mais próximo da sociedade.

Isso porque o momento atual está cercado pela disseminação de fake news nas redes sociais, que acabam colocando em dúvida a atuação do jornalista e a apuração da notícia. Dessa forma, é necessário mostrar a importância da checagem de informações e a relevância dos jornais na apuração dos fatos.

Foi debatida ainda a urgência da colaboração jornalística, mostrando que os veículos podem e devem trabalhar juntos na realização de reportagens, uma vez que não é possível que as redações estejam em todos os lugares. Tudo isso buscando tornar a comunicação cada vez mais acessível.

O festival terminou deixando a reflexão sobre que tipo de comunicadores estão sendo formados no país, uma vez que é necessário ter paixão pela área para não desistir de transmitir uma informação de qualidade, firmando um compromisso, principalmente, com a democracia.

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