A última cartada no Rio Grande do Sul

Por Gabriel Bresque

Se nas pesquisas a disputa para governador do Rio Grande do Sul parece definida, nos debates e na internet a briga entre José Ivo Sartori e Tarso Genro se intensifica diariamente. Nesta semana, uma série de acusações ao adversário marcaram os programas do candidato do PT, que tenta minar a imagem do líder das pesquisas. A ideia do programa de Tarso é simples: atacar o conceito de bom moço de Sartori e pontuar sua ligação com ex-governadores que ficaram conhecidos por péssimas administrações. No outro lado, o representante do PMDB se defende intensificando sua ligação com a família e suas origens serranas, um marco durante toda essa campanha. É dentro desse momento de combate que os dois se enfrentam hoje à noite no último debate entre eles, na RBS TV.

A disputa da última semana apresentou e definiu claramente os planos de atuação dos dois candidatos. A assessoria de Tarso Genro aposta na desconstrução de Sartori, favorito nas pesquisas, como uma última arma na tentativa da virada. Esse plano de ação lembra muito o utilizado no primeiro turno, grande responsável por tirar Ana Amélia Lemos da disputa. Porém, o tiro pode ter saído pela culatra para o PT. Quando a senadora perdeu forças, quem cresceu foi Sartori, não Tarso.

O programa tenta fazer o mesmo com o candidato do PMDB, mas o tempo menor de campanha nessa fase dificultou as ações petistas. Agora ela parte para o tudo ou nada e não teme o ataque. Trechos da entrevista de José Ivo com o grupo La Urna ocupam o programa televisivo de Tarso desde a semana passada. Nessa entrevista, o Pmdbista tem dificuldades em responder a um pedido simples: apresentar uma proposta com início, meio e fim. Ao término dessas imagens, a produção Petista questiona a capacidade de um candidato que nem consegue responder essa questão para ser governador do estado.

Enquanto isso, Sartori assume a atitude de não mudar o que está dando certo. Começa todos os seus programas apresentando frases e ideologias famosas e intensifica assim, sem muito conteúdo, a sua personalidade e seu pensamento para o estado. As imagens com sua mãe foram trocadas por aparições dos seus eleitores que mandam vídeos cantando e mandando mensagens para o candidato ao governo do estado. Extremamente apegada ao lado humano, sua campanha aposta na identificação com o Gaúcho mais humilde, que trabalha no campo e ama as coisas de sua terra. Tem dado muito certo.

Com o lema de “Meu partido é o Rio Grande”, José Ivo segue a linha de não atacar seu rival. Inclusive, usa a defesa pela limpeza de ataques de seu programa como um dos seus maiores trunfos. Fala muito de união de ideias, de partidos e de forças pelo estado. Mantém o diálogo como a sua principal proposta, em todos os setores da sociedade.

Nos debates do segundo turno, essa postura foi criticada e questionada por Tarso Genro. O Petista pede um posicionamento de seu adversário nesses pontos cruciais da sociedade e sempre lembra o governo de Antonio Britto, também do PMDB. Nesse governo foram implementados os pedágios que assolam os Gaúchos que usam as estradas. Por ter começado um projeto de retirada deles em seu governo, Tarso os usa como uma arma forte nesse momento. Coloca Sartori do lado que colocou os pedágios, enquanto ele se apresenta como a solução em andamento do problema.

Como em toda campanha o Pmdebista responde as perguntas com diálogo. Sua grande proposta, sempre foi a conversa aberta depois de eleito. Involuntariamente, dá assim a principal arma petista nessa disputa. O diálogo que não oferece nada previamente e espera da sociedade as suas principais armas parece um pensamento vazio de possibilidades. Essa estratégia de Sartori leva a crer que nada vai acontecer sem ser previamente acertado com os responsáveis pelos setores da sociedade. Porém, nesse caminho, se abrem possibilidades grandiosas entre os lideres, uma ideia que pode se tornar uma armadilha eleitoral.

No contraponto, Tarso Genro tenta ser o primeiro governador na história do estado a conquistar a reeleição. Mais do que isso, o PT tenta ser o primeiro partido a conseguir se manter no poder por mais de quatro anos, algo que aconteceu em todos os estados brasileiros, menos no Rio Grande do Sul. Tarso defende a manutenção do projeto e diz que é impossível solucionar todos os problemas do estado em quatro anos e que a mudança constante de liderança trava a possibilidade de implantação de projetos a longo prazo. Dentro de suas principais propostas estão a manutenção de dois planos que estão em ação: a conquista de uma parte dos ganhos do Pré-sal para o estado – é a principal esperança do Petista para conseguir pagar o piso dos professores – e a negociação da dívida Gaúcha com a união, que será votada em Brasília, no mês que vem.

Por isso, o debate de logo mais promete esquentar e explicitar todas as armas dos dois candidatos. Tarso precisa mudar o cenário das pesquisas se quiser manter seus projetos. Será agressivo e tentará desmontar os conceitos de Sartori, questionando o passado do partido e o quão difícil é fazer qualquer prognóstico sobre um governo que se montou baseado, apenas, no diálogo. Em contrapartida, Sartori manterá a sua postura e a sua imagem, sendo o mais coerente à sua personalidade que puder, em meio a tantos questionamentos que o Petista tem na manga. Temos hoje, de fato, a última chance de alguma mudança no cenário que se desenha para os próximos quatro anos do Rio Grande do Sul.

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