UFPEL presta homenagens a L. C. Vinholes

A Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) promove série de atividades em celebração à vida e obra de L. C. Vinholes em 2023

O ano de 2023 registra ao menos duas efemérides marcantes na vida de L. C. Vinholes. Em 10 de abril, o patrono da Discoteca do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas completou 90 anos de vida. No dia 17 de setembro de 2023, são celebrados os 60 anos da irmandade entre os municípios de Pelotas (RS-Brasil) e Suzu (Ishigawa-Japão), acordo celebrado em 1963 por iniciativa de Vinholes, que realizou também a articulação bilateral entre as prefeituras e câmaras municipais das duas cidades.

Como forma de prestar tributo ao poeta, compositor, tradutor e escritor que empresta seu nome à Discoteca do Centro de Artes, um coletivo de docentes e técnico-administrativo do Centro de Artes submeteu proposta ao Conselho Universitário (ConsUn) e ao Conselho Diretor da Fundação (ConDir) da Universidade Federal de Pelotas, que aprovaram por unanimidade a proposição de concessão do título de Doutor Honoris Causa da instituição a Luiz Carlos Lessa Vinholes, a ser entregue no dia 15 de setembro de 2023 em sessão solene conjunta dos Conselhos Superiores da universidade.

Em meio às celebrações pela concessão do título de Doutor Honoris Causa, pelos 90 anos do homenageado e pelo 60° aniversário da irmandade Pelotas-Suzu, o Centro de Artes promove diversas atividades com a participação de Vinholes, em colaboração estreita com a Prefeitura Municipal de Pelotas. Saiba mais sobre os eventos na agenda a seguir.

 

PROGRAMA-PB

PROGRAMA-COLOR

Notícia atualizada em 13/09/2023, 17:00

Em função dos eventos climáticos extremos que indicam a ocorrência de grande volume de chuvas para a região de Pelotas, as atividades programadas para ocorrer terça e quarta-feira (12 e 13/09/2023) foram canceladas ou adiadas por determinação da administração superior da universidade (veja notícia sobre a suspensão das atividades na UFPEL). Também houve alteração de local da sessão solene dos conselhos superiores da UFPEL, que ocorreria na Bibliotheca Pública Pelotense na sexta-feira dia 15/09 às 17h e será realizada no mesmo dia e horário no Auditório 2 do Centro de Artes da UFPEL – rua Álvaro Chaves, 65 – térreo. Com o retorno seguro às atividades nesta quinta-feira dia 14/09 e os ajustes possíveis na agenda de eventos, a programação foi reorganizada da seguinte forma:

SET, 14 — QUINTA 17h
Auditório 2 — Centro de Artes / UFPEL – Rua Álvaro Chaves, 65
Palestra L. C. Vinholes:
60 anos irmandade Pelotas— Suzu
Mediação profa. Silvana Schimanski (RI— IFISP/UFPEL)
Aberta ao público – Entrada franca

SET, 15 — SEXTA 15h30
Sala Frederico Trebbi / Saguão do Paço Municipal
Praça Cel. Pedro Osório, 101
Ato de descerramento de placa em homenagem a L. C. Vinholes
Prefeitura Municipal de Pelotas

SET, 15 — SEXTA 17h
Auditório 2 Centro de Artes / UFPEL – Rua Álvaro Chaves, 65
Sessão Solene Conjunta dos Conselhos Superiores da UFPEL
Outorga de títulos Doutor Honoris Causa a Luiz Carlos Lessa Vinholes e Professora Emérita a Maria Letícia Mazzucchi Ferreira / UFPEL 2023

SET, 15 — SEXTA 18h
Auditório 2 Centro de Artes / UFPEL – Rua Álvaro Chaves, 65
Obras musicais de L. C. Vinholes
Apresentação de peças do compositor em celebração aos 90 anos de vida e título Doutor Honoris Causa da UFPEL 2023, com Daniel Benitz, Guilherme Tavares, Gustavo Cunha, Gustavo Silveira, João Alexandre Straub Gomes, Maria Falkembach, Mario Maia e Raul Costa D’Ávila
Aberta ao público – Entrada franca

SET, 16 — SÁBADO 11h
Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo – Praça 7 de julho, 180
Abertura exposição:
Pelotas—Suzu: diálogo com Leopoldo Gotuzzo
Aberta ao público – Entrada franca

SET, 17 — DOMINGO 11h
Praça Jardim de Suzu – Av. República do Líbano, 168
Inauguração da revitalização da praça Jardim de Suzu
Aberta ao público – Entrada franca

 

60 anos da música aleatória

Uma obra pioneira na história da música aleatória completou 60 anos de sua primeira utilização em 31 de dezembro de 2021. Trata-se da Instrução, para quatro instrumentos quaisquer e quatro colaboradores (1961), nome posteriormente simplificado para Instrução 61. A obra foi criada pelo compositor Luiz Carlos Lessa Vinholes (Pelotas, RS, 1933) em sua primeira estada no Japão, quando exerceu funções de adido cultural na embaixada do Brasil em Tóquio.

 

 

O ano novo no Japão, ou Oshougatsu [お正月] é celebrado em torno de atividades culturais e eventos tradicionais. Foi neste clima de celebração cerimonial que Vinholes foi convidado para uma comemoração da passagem de 1961 para 1962 no estúdio do Grupo Música Nova Tomohisa Nakajima, em Tóquio.

Ao saber que artistas da vanguarda musical japonesa também participariam, Vinholes levou ao encontro um conjunto de 100 cartões quadrados, produzidos em papel rígido, com 12cm de lado. Os cartões, separados em quatro conjuntos menores de 25 peças cada, continham o traçado de um quadrado com uma variação de três sinais gráficos e um vazio. sete unidades com o traçado de uma linha horizontal alongada; sete com um ponto centralizado; sete com uma linha horizontal curta; e quatro cartões em branco.

O compositor brasileiro demonstrou o método de utilização dos cartões e o significado das posições relativas dos símbolos de linhas curtas e longas: na vertical, representam um aglomerado menor ou maior de sons e/ou notas; na horizontal, representam um som curto ou longo qualquer. Vinholoes distribuiu um conjunto de cartões a quatro instrumentistas: flauta transversal, piano, uchiwa-daiko – um tambor budista sem caixa de ressonância – e violino, enquanto outros quatro colaboradores se posicionaram em frente aos músicos, apresentando-lhes os cartões. A sessão realizada em 31 de dezembro de 1961 no Estúdio Nakajima durou em torno de 30 minutos. Conforme a pesquisadora Lilia Rosa, esse evento viria a se tornar um acontecimento na vida do compositor e para a própria história da música brasileira.

Vinholes e o Grupo Música Nova Tomohisa Nakajima, durante primeiro uso da Instrução 61 no Estúdio Nakajima em Tóquio, 31/12/1961.

“A Instrução 61, que não é uma obra com autor, mas sim um conjunto de parâmetros a serem seguidos e que permitem a criação de músicas aleatórias, foi idealizada para quatro instrumentos quaisquer e utilizada nos últimos cinquenta anos por conjuntos com combinações instrumentais as mais variadas.

A primeira vez que ela foi usada por uma orquestra foi com a Sinfônica Nacional de Seul, em janeiro de 1964, regida pelo maestro Mon Bok Kim, em transmissão ao vivo pela Rádio Cultura da Coréia, HLKT. A segunda vez ocorreu 47 anos depois da primeira, no âmbito do 33º Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília, a Orquestra Contemporânea regida por Jorge Lisboa Antunes.

Comparando a maneira com que os cem cartões da Instrução 61 foram usados em Seul e em Brasília verificou-se marcante diferença nos resultados sonoros obtidos: na primeira a presença de uma quantidade bastante significativa de silêncios fazendo parte da estruturação do complexo sonoro obtido e a segunda mostrando a predominância de densos complexos sonoros e a quase ausência de silêncios. Em Seul, a manipulação dos cartões da Instrução 61 contou com colaboradores, figura indispensável, que tem a atribuição de apresentar os cartões a serem lidos pelos músicos. Na Escola de Música de Brasília os membros da orquestra foram divididos em grupos e a manipulação dos cartões esteve a cargo apenas do regente, fazendo com que as leituras de cada um dos grupos se tornassem afim uma com as outras, pois nos mesmos tempos os grupos liam os mesmos cartões, assim diminuindo as oportunidades de diversidade, fazendo com que os resultados sonoros se assemelhassem.

Ao cotejar os resultados sonoros obtidos nas duas ocasiões é mister afirmar que cada um deles, sendo uno em si mesmos, é igualmente válido, não admite análise, uma vez que para esta não foram criados e nem são viáveis parâmetros pré-estabelecidos que permitam comparações com atribuição de valores.” Excerto do artigo “Instrução 61 na Escola de Música de Brasília”, de L. C. Vinholes.

A fotografia apresenta integrante do grupo manipulando cartões durante o primeiro uso da Instrução 61.

A respeito da relevância da Instrução 61 para a música no Brasil, o compositor Gilberto Mendes, escrevendo sobre o programa do XI Festival Música Nova de Santos, diz: “A terceira música do programa tem importância histórica dentro da música brasileira. É Instrução 61, do brasileiro Luiz Carlos Vinholes, introdutor da música aleatória em nosso país” (Tribuna da Imprensa, 14/09/1975).

O compositor João Marcos Coelho, em artigo intitulado “Uma história da música com vários pecados”, comentando a História da Música, do diplomata Vasco Mariz, editada pela Civilização Brasileira em convênio com o Instituto Nacional do Livro – MEC, escreve: “Gilberto Mendes não é o pioneiro da música aleatória como quer Vasco Mariz, mas sim Luís (sic) Carlos Vinholes, autor, em 1961, de “Instrução 61” a primeira peça aleatória brasileira. Vinholes, aliás, sequer é citado nesta “história” assim como Armando de Albuquerque e Joci de Oliveira” (Folha de São Paulo 21/04/1981).

L. C. Vinholes e músicos da Orquestra Sinfônica de Seul (regência de Mon Bok Kim), executam a Instrução 61 no Hall Renascença em Seul – Coréia, na primeira vez em que ela foi usada por uma orquestra, em janeiro de 1964. O evento foi transmitido ao vivo pela Rádio Cultura da Coréia – HLKT.

Os 14 anos de permanência no Japão e as estadas na Coréia do Sul e China permitiram a Vinholes conhecer outras formas de organização do pensamento e do fazer musical possibilitando maior liberdade com relação à cultura ocidental. O compositor é econômico nos meios de expressão, conciso na linguagem e dá preferência ao tratamento pragmático do processo de criação. Suas obras têm curta duração e uma estrutura própria e independente em que se emprega a indeterminação e aspectos aleatórios. Em março de 1962, L. C. Vinholes novamente lançou mão do recurso composicional do acaso, também utilizado na Instrução 61 – conforme explica em sua tese a professora Lilia de Oliveira Rosa (Unicamp), pesquisadora da obra de Vinholes – ao criar a Instrução 62 para instrumentos de teclado. Em 30 de março de 1962 ocorreu a estreia mundial da obra, realizada no estúdio Nakajima em Tóquio, com o pianista Tomohisa Nakajima, do Grupo de Música Nova de Tóquio e sua esposa Mie como colaboradora, quando são utilizados pela primeira vez os cartões da Instrução 62.

Tomohisa Nakajima e sua esposa Mie usam pela primeira vez os cartões da Instrução 62.

Nas obras aleatórias de Vinholes, o resultado é fruto da ação dos instrumentistas e da participação do público na figura do colaborador, descaracterizando os tradicionais papéis de “compositor”, “intérprete” e “público”. As Instruções 61 e 62 foram publicadas na revista Design nº 37 (Tóquio 1962).

Por ocasião da passagem dos 60 anos da estreia da Instrução 61, em 31/12/2021 e de [Outros] 60 anos, como o marco da primeira utilização da Instrução 62 – em 30/03/1962 -, a Discoteca L. C. Vinholes presta tributo ao seu patrono, por meio da publicação de reportagens especiais e de séries de peças de conteúdo audiovisual, com o objetivo de difundir a vida e a obra pioneira de Vinholes. Acompanhe as publicações nas mídias sociais e plataformas institucionais da Discoteca L. C. Vinholes.