Este projeto pretende investigar as territorialidades negras e quilombolas ao redor da Laguna dos Patos, nos séculos XIX e XX, identificando assentamentos e deslocamentos tramados a partir dos parentescos, redes de solidariedade, resistência e de fé. Na estreita faixa de terras, entre a laguna dos Patos existem na atualidade, de ponta a ponta da laguna, oito comunidades remanescentes quilombolas reconhecidas pela Fundação Palmares, a maioria delas, assentadas no século XIX, a partir da conquista de terras e de liberdade. Para além destas comunidades atuais é possível identificar outras comunidades negras e quilombolas em documentos da primeira metade do século XIX. Para pensar neste litoral, é possível mirar para as águas. A antropóloga Ilka Boaventura argumenta que as terras de libertos poderiam ser um ponto estratégico de fugas para outros escravizados da região do litoral. A partir desta possibilidade pode-se analisar os arredores da laguna dos Patos onde encontra-se outras experiências de quilombos. Afinal as águas poderiam ser uma importante rota de fuga, mas também de troca, de solidariedade e transmissão de práticas de resistências. Na Ilha do Marinheiro, segundo Mario Maestri existiu o quilombo do Negro Lucas que era constituído por escravos fugidos. Do outro lado da laguna, na Serra dos Tapes, em Pelotas, houve o quilombo de Manoel Padeiro. Pinto, Moreira e Al-Alam investigaram as práticas quilombolas, na década de 1830, onde Manoel e seu grupo circulavam e resistiam desde, pelo menos, a metade do ano de 1834. O livro destaca o grande conhecimento dos quilombolas em relação ao território que circulavam, que era mapeado pelas localidades bem como os nomes dos proprietários, configurando uma “cartografia nominal” acionada para transitar, fugir e resistir. Desse modo, este projeto pretende identificar estes assentamentos e outros a serem encontrados durante esta pesquisa visando a elaboração de cartografias negras e quilombolas quem deem conta da complexidade das comunidades e sua relações com o território.