Uma crônica de Yasmin Arroyo
O Porto de Pelotas é um bairro conhecido e que recebe, além de moradores, muitos estudantes que frequentam o campus universitário da UFPel e os bares da redondeza. Todavia, acima daqueles que vão e vêm, há quem, por muitos anos, contribui para sua consolidação e, hodiernamente, mora e aproveita tudo o que o bairro oferece após rápida transformação.
Silvia Penna, moradora do Porto há mais de 40 anos, veio de El Salvador ao Brasil e, assim que chegou no Rio Grande do Sul, se instalou no bairro. Para ela, o Porto é mais que um bairro, é a extensão da sua família que não conseguiu acompanhá-la a outro país. Também, é o abraço comunitário de quem, a cada dia, a acolhe com cumprimentos generosos. É a porta de entrada de outros brasileiros e brasileiras que reconstruíram o significado de família. É, principalmente, o lugar que a permite dormir e acordar com ar de pertencimento mesmo estando em outra nação. “Morei em outras cidades do Rio Grande do Sul, mas gosto de Pelotas. Há mais de 40 anos moro na Zona do Porto e gosto muito. Não tenho dificuldade de locomoção, ando de ônibus e sou acostumada. As ruas e as casas são muito diferentes do modelo de El Salvador”, conta. “Na minha terra as casas são separadas e gosto muito do modelo brasileiro. Muitos da região são família pra mim” afirma Silvia.
O Porto, bairro muitas vezes colocado à margem da sociedade, seja por descuido governamental ou pela forma como a sociedade o enxerga, cheia de estereótipios ruins, é um dos bairros mais significativos e históricos da cidade. A sua maneira, ele forma estudantes, recebe imigrantes e movimenta a economia local, gerando trabalho e renda. Além disso, conta com projetos sociais, como o OtroPorto e Quilombo Urbano. O Porto é cultura, história, diversidade, saberes e, principalmente, é o conjunto de pessoas que merecem ter riquezas validadas. O pertencimento a um imigrante é valor inominável e o Porto consegue fazer isso.
A formação de milhares de estudantes é de suma importância à sociedade brasileira, a região portuária enriquece social e culturalmente com isso. Ser lazer e trabalho para boa parte de uma cidade é raro e o Porto consegue. É um bairro que faz, que dá, que doa e, dificilmente, recebe os aplausos merecidos. Seus estigmas são muitos, sua história é forte, sua comunidade é, majoritariamente, comunitária, suas famílias são lindas e diversas e sua carência empática é urgente. É hora de toda Pelotas olhar com atenção e fazer parte dos agentes transformadores dessa história.