Por Guilherme Pinto de Almeida*
É banhada pelas águas do canal São Gonçalo – o Sangradouro da Mirim -, em cuja margem esquerda está a planície onde encontrou lugar a povoação da Freguesia de São Francisco de Paula. Canal junto ao qual os portugueses ergueram o Forte de São Gonçalo, na foz do Rio Piratini. São Gonçalo que tem como afluente o arroio Pelotas, tendo as margens de ambos sediado charqueadas, empreendimentos movidos a trabalho escravizado. Sinuosa comunicação entre a Lagoa dos Patos e a Lagoa Mirim, percurso delimitado por juncos e apreciado pelas garças-brancas e quero-queros. São Gonçalo do Passo dos Negros, o Passo Rico.
Quantas foram as embarcações – pelotas, canoas, botes, chalupas, catrais, iates, barcas, lanchões, escunas, sumacas, brigues, patachos, paquetes, lúgares, geleotas, barcaças, palhabotes, vapores – que significaram suas águas? Em estaleiro às margens do arroio Santa Bárbara, outro afluente do São Gonçalo, foi montada a primeira embarcação a vapor que cruzou as águas do Rio Grande do Sul.
Por estas águas chegaram o sal para o charque e o açúcar para os doces. Através destas águas chegaram os artigos importados que abasteceram o pujante comércio local e satisfizeram o gosto cosmopolita dos pelotenses. Um porto conectando Pelotas o mundo,
Quantos foram os viajantes, cativos, livres ou imigrados aqui aportados? Quantos trabalhadores obtiveram seu sustento do intenso movimento vivenciado nos períodos áureos de operação das diversas fábricas aqui instaladas?
Também a região portuária muito quer dizer em relação ao futuro de Pelotas. Experimenta uma revivescência, incrementada pela afirmação de um núcleo de formação universitária, aliada à chegada de novas e promissoras perspectivas econômicas.
O Porto de Pelotas tem e terá muitas histórias para contar.
*Arquiteto e Urbanista. Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela UFPEL. Autor do livro e projeto Porto Memória. Pesquisador-membro da OTROPORTO Indústria Criativa.