Apresentação

A LEI Nº 11.645/2008 incluiu no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, tornou-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. Consta na lei que o conteúdo programático deverá incluir diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil (Lei Direto, 2009).

A justificativa da necessidade da promulgação desta lei tem relação com as desigualdades sociais que podem ser verificadas também a partir da cor de cada indivíduo. Prova disso estão nos dados apresentados por Lemos (2009) onde relata que “no ensino fundamental, … tem-se uma realidade descrita pela análise de indicadores nacionais recentes (Censo Escolar 2007 apud. BRASIL, 2009) na qual a distorção idade-série de brancos é de 33,1% na primeira série e de 54,7% na oitava, enquanto a distorção idade-série de negros é de 52,3% na primeira série e 78,7% na oitava. Dentre jovens brancos de 16 anos 70% haviam concluído o ensino fundamental obrigatório, enquanto que dos negros, apenas 30%. Dentre as crianças brancas de 8 e 9 anos na escola, encontramos  uma taxa de analfabetismo da ordem de 8%, enquanto que dentre as negras essa taxa  é de 16% (PNAD/IBGE, 2007 apud. BRASIL, 2009)”.

Buscando modificar os dados apresentados, partindo de melhorias no processo de ensino-aprendizagem focadas na busca da valorização da cultura e busca da auto-estima dos estudantes, foram criados novos tipos de abordagem dos conteúdos em sala de aula onde todas as crianças poder-se-iam sentir-se pertencentes ao contexto do conhecimento construído tendo no futuro  lugar ao mercado de trabalho em iguais condições  de oportunidade.

Partindo desse pressuposto sugerimos uma metodologia de trabalho onde a contribuição cultural de todas as raças que compõem o povo brasileiro seja conhecida e valorizada, que suas origens sejam conhecidas e que cada aluno consiga perceber a importância de sua interferência na comunidade enquanto cidadão.

Esta é a proposta do grupo Design + Escola + Arte (D.E.A.) tendo em vista que, o cumprimento da lei tem proporcionado resultados bastante positivos no que se refere a auto-estima das crianças negras e indígenas a partir de atividades realizadas nos diversos componentes curriculares. Comprovação deste fato pode-se encontrar nos trabalhos relatados por Sagramento et.al., 2009; Zonzon, 2009; Coutinho, 2009 e Lemos et. al., 2009 entre outros; onde abordagens como religião, capoeira angola, a estética do cabelo e formação para o exercício da cidadania exemplificam uma mudança de pensamento no trato da temática étnico-racial.

A Universidade Federal de Pelotas, da qual faz parte a maioria dos membros do grupo D.E.A., tem seu trabalho pautado em três áreas de atuação: o ensino, a pesquisa e a extensão. Na atividade extensionista os graduandos trabalham e exercitam o conhecimento construído ao atuarem na sociedade, passando a perceber a importância das informações e conceitos desenvolvidos na Universidade. Nesta conjuntura afloram a iniciativa, a autoconfiança e o espírito de cidadania. A comunidade, por sua vez também é favorecida nesta relação de cooperação, pois as crianças, jovens e estudantes adultos  passam a valorizar a sua cultura em detrimento dos valores importados, ao conhecerem personalidades importantes no desenvolvimento político, econômico e social brasileiros e as contribuições do povo africano e indígena nas mais diversas áreas do conhecimento.

A partir de uma nova visão de mundo a comunidade escolar passa a valorizadar menos as fast foods, a música eletrônica, o design de móveis e utensílios cujos materiais e conceitos ergonômicos desconsideram as particularidades do brasileiro além da mídia importada, que tenta instigar ao consumo desenfreado de bens, que nem tão necessários são à nossa sobrevivência.

Assim que o grupo D.E.A, consciente da importância do direcionamento de um trabalho que vise reduzir as diferenças sociais já descritas e da busca pela valorização de todos os indivíduos propõem um projeto de oficinas que pode se adequar as diversas realidades regionais. Partindo de um “cardápio” de opções, que contemplam a literatura, as artes, a música e muitas outras influências culturais almejando ter por resultado produções intelectuais e novas formas de pensamento e ideais por parte dos corpos docente e discente de cada escola por onde atuar.


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