Destaque à música autoral

 

Reportagem de Anahí Silveira e Larissa Patines –

Mostra A Vapor apresenta novos compositores sábado e domingo, a partir das 15h, na esplanada do Theatro Sete de Abril em Pelotas –

Rodrigo “Esmute” Farias, Ana Maia e Lauro Maia: à frente do estúdio A Vapor

 

     Indiferença. Por muitas vezes, esse é o obstáculo para aqueles que se mantêm na música através de trabalhos autorais. Na verdade, os obstáculos são múltiplos – do incentivo escasso até a falta de acesso às gravadoras -, mas talvez lidar com a desmotivação e a luta incansável por oportunidades sejam cruciais, especialmente em um país onde a cultura de massa predomine nos espaços de produção.

      Em um caminho oposto a essa indiferença está a Mostra A Vapor de Música Autoral. A descoberta, visibilidade e aposta naquilo que é feito na cidade de Pelotas são elementos facilmente identificados no projeto que abriu inscrições para aqueles que desenvolvem trabalho musical autoral e que ainda não haviam lançado seus materiais profissionalmente em áudio ou audiovisual.

     A Mostra tem como objetivo difundir e divulgar a música autoral feita na cidade, além de viabilizar registros fonográficos e/ou audiovisual dos trabalhos dos músicos, e está sendo promovida pelo estúdio pelotense A Vapor, com o financiamento da Prefeitura de Pelotas, por meio do edital de eventos da Secretaria de Cultura  (Secult).

     Ana Maia é uma das sócias do estúdio – ao lado de Lauro Maia, seu irmão, e de Rodrigo “Esmute” Farias – e organizadora da proposta que teve início em 2016, e explica como a ideia foi colocada em prática. “Começou com outro projeto que fiz, em novembro de 2015, que se chamava Lendo Música”. A ação ocorreu durante a Feira do Livro daquele ano, na praça Coronel Pedro Osório. Através de um fone de ouvido, eram apresentadas músicas feitas na cidade para as pessoas que passavam pelo local, e as reações eram filmadas. Para isso, Ana e equipe solicitaram divulgação nos veículos de comunicação locais para chamar a atenção daqueles que tivessem trabalhos gravados na cidade, pedindo que enviassem para o projeto – essas seriam as músicas apresentadas posteriormente ao público. O resultado disso foi um alcance tão grande que impressionou pela quantidade de material existente por aqui, que ultrapassa o que é geralmente visível. “Acabamos vivendo em um circuito, numa espécie de bolha que a gente não cria nem alimenta, mas é natural, acontece, porque não tem como dar conta de tudo. A gente acaba conhecendo os mesmos artistas, nos mesmos lugares. São coisas super boas, mas deixamos de conhecer muito”, avalia Ana.

     Ela destaca a reação dos participantes quando foram surpreendidos por criações locais em meio à feira literária. “As pessoas achavam inacreditável que tudo era feito em Pelotas porque existe uma ideia de que só existem estúdios no Rio de Janeiro e São Paulo”. Durante o Lendo Música a equipe ainda teve os equipamentos roubados, às vésperas da exibição do resultado do projeto, nos últimos dias da Feira, necessitando realizar novamente a intervenção para obter novos materiais.

     “A gente juntou as duas experiências”, relata Ana sobre o projeto de “apreciação pública de música” que motivou o surgimento da Mostra. Além disso, o A Vapor, com seis anos de atuação no mercado fonográfico, por si só também favoreceu a ideia pelo trabalho com grande fluxo de informações. O estúdio, que oferece serviços de produção musical, mixagem online, gravação, dentre outros, passa por um momento de grande reconhecimento, após intenso trabalho e muitos artistas envolvidos: Lauro Maia ganhou o Grammy Latino por conta do álbum “Derivacivilização”, do jovem músico porto-alegrense Ian Ramil, premiado como “Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa” de 2016. Lauro foi o engenheiro de som do CD. Sobre o reconhecimento, Ana enfatiza: “estamos tentando surfar essa onda”.

     A divulgação da Mostra foi priorizada nos bairros e, para isso, Ana e Alexandre Mattos, também da equipe do projeto, dividiram-se no mapeamento informal de localidades diversas para identificar, de fato, qual a identidade cultural de cada espaço e entender qual poderia ser o alcance da ação. “Levamos mais tempo nisso do que a gente previa por que ficou muito rico e decidimos continuar. Não tínhamos noção de que teríamos tanto [material]”, lembra.

     Ana também destaca a questão do projeto ter participado através de edital e obtido o financiamento da Prefeitura. “Uma coisa que aconteceu nos últimos anos em Pelotas e acho que é uma conquista do pessoal da Cultura é ter passado a ter os eventos por edital. Isso permitiu uma concorrência mais próxima do justo”, diz, acrescentando que artistas da cidade não conseguem participar das seleções por editais justamente por não terem material gravado com alta produção para tanto. “Isso tudo fomos observando e levando em conta para constituir esse projeto que hoje é a Mostra. A ideia principal é apresentar para o público quem são essas pessoas e o que elas fazem”.

A banda Prof. Ludovico participa da primeira etapa da Mostra

     Através do preenchimento de formulário e breve descrição do trabalho, era possível efetuar a inscrição para a Mostra de forma rápida. E antes mesmo de encerrar as participações, o projeto já contava com um número de inscrições muito maior do que o previsto. O processo ficou aberto do início de fevereiro até 3 de março e recebeu 67 inscrições. Para Ana, a seleção é algo “doído”, pela quantidade de participantes que ficam de fora, mas também torna-se um fator valioso para motivar outros projetos.

     O resultado de toda essa articulação (e visibilização) será levado ao público durante a Mostra, nos dias 25 e 26 de março, sábado e domingo, a partir das 15h. Os 20 artistas selecionados irão se apresentar na esplanada do Theatro Sete de Abril, sendo 10 artistas por dia e cada um interpretando duas músicas. Depois disso, uma nova etapa será realizada: a mesma comissão que selecionou os artistas para os dois dias de shows escolherá alguns deles para realizarem uma produção musical em áudio e vídeo no A Vapor. “A ideia é que essas pessoas possam sair dessa experiência com esse material e possam utilizar da melhor forma”, projeta.

     Uma das bandas selecionadas na Mostra é a Prof. Ludovico, que mistura MPB, choro e  samba e é formada por Bruno Soares, César Gularte, Lucas Torres, Mauricio Schäfer e  Otonni  de  Leon.  Para  eles,  a  inscrição  quase  no  término do prazo só deixou a notícia da seleção ainda mais especial. “Nos inscrevemos na última hora, pois queríamos regravar uma das músicas. Demoramos, mas deu tudo certo. A notícia de que fomos selecionados foi muito comemorada, foi uma surpresa gratificante demais. A certeza que temos daqui pra frente é a de que devemos seguir acreditando até o fim, e que precisamos trabalhar cada dia mais. O que buscamos sempre é o reconhecimento e o momento é esse”, conta Lucas Torres. A programação dos dois dias com os horários das apresentações será divulgada em breve pela página da Mostra. Confira os selecionados:

  • Bombai
  • CAU
  • Chispa
  • D Mix Charme Rappers
  • Endrigo
  • Estação do Baixo
  • Gustavo de Oliveira Otesbelgue
  • Will e Banda
  • Laboratório Suicida
  • Leo Lelling
  • Mariozinho Porto
  • Matheus Torres
  • Mauscacos
  • Natora
  • Nilton Medonha
  • Ludovico
  • Silverdani
  • Sinais de Fumaça
  • Solidão Povoada
  • Yuri Marimon

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